O Bom e Sagrado Caminho Vermelho

Em nossa caminhada, levando a cura através da medicina da Arte Xamânica a muitos irmãos e irmãs, recebemos inúmeras bênçãos, sejam por palavras, gestos, sorrisos, alegrias, descobertas e a amizade que vamos fortalecendo com cada um que vem compartilhar conosco esta sagrada medicina.

Assim, através da beleza da entrega e do amor incondicional, o Grande Espírito coloca em nosso caminho as bênçãos de receber e compartilhar informações verdadeiras e embasadas no profundo conhecimento das culturas ancestrais espalhadas pelo mundo e pelo tempo, que compartilhamos com todos aqui neste espaço sagrado, por saber que o "Tempo das Nuvens Negras" chegou ao fim e a luz da informação e do conhecimento nativo verdadeiro deve ser transmitido com urgência a todos os buscadores da luz.

Como diz Hotashugmanitu Tanka: "estamos aqui para semear e compartilhar, fazendo brilhar a Roda do Arco Íris neste início do Tempo do Búfalo Branco, trazendo a consciência da totalidade, a paz e a serenidade para os irmãos de todas as cores".

Que assim seja!

Marcelo Caiuã e Bianca Martins


4 - Wiwanyag Wachipi


4º Ritual Lakota - Wiwanyag Wachipi - A Dança do Sol

O Grande Chefe e Pai da Nação Sioux, Alce Negro, nos conta que a Dança do Sol é um dos rituais mais grandiosos para os Sioux e que foi instituida muitos invernos depois deles receberem o Cachimbo Sagrado da Mulher Búfalo Branco. A Dança do Sol chegou aos Sioux através da visão de um dos homens dessa Grande Nação, chamado Kablaya (Aquele Que Se Estende), numa noite em que os anciãos estavam sentados em círculo celebrando Conselho.

"Há muito tempo, o Grande Espírito nos disse como deveríamos orar com o Cachimbo Sagrado, porém nós fomos relachando na prática da oração e nosso povo perde vigor. Uma nova maneira de orar acaba de me ser revelada em uma visão, O Grande Espírito veio em nossa ajuda. Esta nova maneira de orar será A Dança do Sol. Esta dança será uma oferenda de nossos corpos e de nossas almas ao Grande Espírito, e estará plena de mistério."

A Dança do Sol permite aos Guerreiros o direito de ofertar sua dor, seu sangue, suas preces e a si mesmos, sacrificando-se pelo bem da Nação. Se celebra a Dança do Sol durante a Lua da Engorda (junho) ou na Lua das Cerejas Maduras (julho), sempre na Lua Cheia, pois o crescimento da lua recorda a ignorância dos homens, que vai e vem. Porém quando a lua está cheia é como se a Luz Eterna do Grande Espírito se extendesse por todo o mundo. Esta cerimonia dura quatro dias e honra as Quatro Direções e a Sagrada Árvore da Vida. Durante a cerimônia os guerreiros têm a oportunidade de provar o seu valor como protetores da Nação. Não pode ser feita por qualquer um, somente por uma pessoa de valor e, caso seja bem sucedida, encarna depois do ritual a figura do líder dirigente.

Antes de começar a dança, o guerreiro escolhe um padrinho que já realizou essa dança ao menos uma vez e que será responsável pela coragem do dançarino e sua força de caráter. A disposição e coragem necessária para ficar dançando sem ingerir comida nem água durante quatro dias torna-se um verdadeiro teste de caráter do dançarino. Os meses de preparação que precedem a Dança do Sol incluem o jejum, a Busca da Visão, a purificação na tenda de suar, o Cachimbo Sagrado e muitas oras de oração pessoal. Uma queda durante a Dança do Sol traz desonra ao padrinho do guerreiro que caiu e pode ser o presságio de um período de infortúnio para a Nação. O primeiro a se sentir desonrado é o padrinho, que não preparou adequadamente o guerreiro, com mais rigor.

A preparação do local usado para a Dança do Sol segue todo um ritual. Cabe às mulheres da tribo preparar um terreno circular. Mas elas também podem dançar.Enquanto isso, vai-se abrindo uma clareira ao seu redor e no centro, a Árvore da Dança do Sol será colocada. A Pessoa em Pé escolhida é marcada com sálvia e cortada e carregada por homens de bom caráter e tenham mostrado valentia e sacrifício de si mesmos no caminho da guerra, vestidos como se fossem para a guerra, a árvore deve ser manejada sem tocar o solo, desde o local de onde foi cortada, até o centro do círculo para ser replantada na terra. Esta Árvore da Dança do Sol representa a Árvore da Vida e deve ser um Álamo. O Álamo é sagrado para os Sioux, porque em tempos remotos o Álamo lhes ensinou a construir suas tenda cônicas, assim como suas folhas. Outra razão pela qual o Álamo é sagrado para os Sioux, é porque ao cortar um membro superior desta árvore, aparece na fibra uma perfeita estrela de cinco pontas, a qual representa para os Sioux a Presença do Grande Espírito. E também porque a voz do Álamo pode ser ouvida até mesmo com a brisa mais tênue; os Sioux compreendem que está é sua maneira de orar ao Grande Espírito, pois não só os homens, mas todas as coisas e todos os seres oram continuamente, só de modos distintos.

"Entre todos os do Povo em Pé, tú óh Wagachum, óh árvore sussurrante, foi escolhida conforme o Mistério, irás ao Centro Sagrado da Nação, representará a tribo e nos ajudará a cumprir a vontade do Grande Espírito. Tu és uma árvore benéfica e de bela aparência; os povos alados tem criado a suas familias sobre ti, em ti, desde a ponta de teus galhos altivos até suas raízes os povos alados e os quatro patas têm feito suas moradas. Quando te levantares no centro do Círculo Sagrado serás a Nação, e serás como o Cachimbo, extendido entre o céu e a terra. Os fracos se apoiarão em ti e será um sustento para a tribo. Com o extremo de suas folhas sustentas os dias sagrados vermelho e azul. Te levantarás aonde se cruzam os quatro caminhos de mistério. Ali tu serás o centro dos Grandes Poderes do Universo. Que nós os duas pernas, sigamos sempre teu exemplo, pois vemos como olhas constantemente para o céu. Representando todos os povos do mundo, te levantarás no Centro e trarás o bem a todos os seres e a todas as coisas. Hetchetu Yelo."

Depois de fixar a árvore em seu lugar, uma Sacola da Dança do Sol é colocada no alto do Mastro da Dança do Sol. De acordo com o ritual, esta passa a ser a nova identidade mágica da Pessoa em Pé. A Sacola da Dança do Sol é uma bolsa de couro que contém a Magia Sagrada dos Totens. Estes pedaços de pêlos, dentes, penas, ossos e garras de animais representam a magia e a capacidade de cura destas criaturas. Cada Dançarino do Sol está em busca de uma Visão de Sabedoria para que lhe seja revelada sua função e assim sua responsabilidade no destino da Nação.

No terceiro dia os dançarinos são trespassados através do tecido conjuntivo dos músculos peitorais, primeiro com um furador e depois com um bastão afiado de cerejeira. Depois prendem-se tiras de couro às pequenas estacas que lhe atravessam o peito, fazendo pequenos cortes para que seu sangue alimente a Mãe Terra. A Luz do Sol entra no pavilhão por uma abertura e ilumina o rosto e o peito do dançarino, que atado à Árvore da Dança do Sol cria um efeito de carrosel. É servida ao dançarino, uma beberagem de erva anti-inflamatória e que alivia a dor.

Também cantam cantos revelados e tocam um grande tambor feito de pele de búfalo, assim como as baquetas, que têm o extremo recoberto de pêlo de búfalo com o lado do pêlo voltado para fora. O tambor é com frequencia o único instrumento utilizado nos rituais Sioux. Ele é tão venerado e importante para os Sioux porque a forma redonda do tambor representa o Universo e seu toque regular e forte é o pulsar, o coração que bate no centro do Universo. É como a voz do Grande Espírito, e este som nos põe em movimento e nos ajuda a compreender o mistério e o poder de todas as coisas.

A dor, o som do tambor, os odores das ervas aromáticas e da sálvia sagrada, mesclados ao giro do carrosel, coloca o dançarino num transe profundo, apto para ter sua visão, seu sonho de destino, enquanto o guerreiro não receber essa visão, deverá realizar a Dança do Sol ano após ano. Se o dançarino passa pela prova, terá a visão necessária para conduzir a si mesmo e a Nação. O guerreiro dançante após a prova, se torna um wakan, e está pleno de energia, podendo, entre outras coisas, impôr as mãos para curar os doentes, porque foi capaz de curar a si mesmo.

O Grande Chefe e Pai da Nação Sioux, Tatanka Lyotake, dançou a Dança do Sol por quatro dias e teve a visão da vitória sobre a sétima cavalaria liderada pelo coronel Custer na Batalha de Little Big Horn, em 25 de junho de 1876. Ele dirigiu a cerimônia da Dança do Sol inúmeras vezes. Búfalo Branco que também lutou na Batalha de Little Big Horn, relatou que o Grande Chefe Tatanka Lyotake não conhecia o medo. Que durante a Batalha Tatanka Lyotake pegou seu Cachimbo e se sentou a cem metros da filas índigenas, ao alcance das balas dos soldados, e começou a fumar tranquilamente. Voltou a cabeça para seus atônitos companheiros e lhes disse:

"Os que quiserem fumar comigo que venham."

Dois Sioux e dois Cheyennes aceitaram o desafio. Um desses Sioux era Búfalo Branco, ele relatou:

"Porém não perdemos tempo, fumamos o mais depressa que pudemos. Ao nosso redor as balas ininterruptas das 400 winchester levantavam o pó, e as ouvíamos sobre nossas cabeças. No entanto Tatanka Lyotake não tinha medo, estava sentado tranquilamente, como se estivesse em sua tipi e fumava com parsimonia. Quando terminou seu Cachimbo, se levantou e voltou para as linhas indígenas."

"A proibição de Cerimônias Sioux durante 1800 e 1900 resultaram na perda da continuidade cultural e conhecimento e reduziu a importância e a frequencia de algumas dessas cerimônias. Hoje, essas cerimônias do Cachimbo Sagrado, Tenda de Suar, Busca da Visão e A Dança do Sol, voltaram a ser usadas para trazer a cura psicológica, física, emocional e espiritual para os indivíduos e comunidades indígenas."

Crow Dog - 1995

"Óh, Grande Espírito cuja voz ouço nos ventos,
cujo hálito dá vida ao mundo,
ouça-me sou pequeno e fraco,
preciso de Tua força e de Tua sabedoria
faça com meus pés andem em beleza
e que inhas mãos protejam as coisas que fizestes.
Faça-me forte, não para ser superior aos meus irmãos,
mas para que eu possa enfrentar meu maior inimigo,
Eu mesmo.
Faça com que eu esteja sempre pronto
para Te encontrar, olhando nos olhos.
Para que quando a minha vida se for,
assim como o sol se põe,
meu espírito não tenha vergonha de fazê-lo."