O Bom e Sagrado Caminho Vermelho

Em nossa caminhada, levando a cura através da medicina da Arte Xamânica a muitos irmãos e irmãs, recebemos inúmeras bênçãos, sejam por palavras, gestos, sorrisos, alegrias, descobertas e a amizade que vamos fortalecendo com cada um que vem compartilhar conosco esta sagrada medicina.

Assim, através da beleza da entrega e do amor incondicional, o Grande Espírito coloca em nosso caminho as bênçãos de receber e compartilhar informações verdadeiras e embasadas no profundo conhecimento das culturas ancestrais espalhadas pelo mundo e pelo tempo, que compartilhamos com todos aqui neste espaço sagrado, por saber que o "Tempo das Nuvens Negras" chegou ao fim e a luz da informação e do conhecimento nativo verdadeiro deve ser transmitido com urgência a todos os buscadores da luz.

Como diz Hotashugmanitu Tanka: "estamos aqui para semear e compartilhar, fazendo brilhar a Roda do Arco Íris neste início do Tempo do Búfalo Branco, trazendo a consciência da totalidade, a paz e a serenidade para os irmãos de todas as cores".

Que assim seja!

Marcelo Caiuã e Bianca Martins


Sacola de Talismãs

Símbolos de ligação
Com os Guias da Terra
Magia que cura
E faz renascer
Talentos que honramos
Dons que louvamos
Força e Compaixão
Que guiam nossos Caminhos 

 
A Sacola de Talismãs é uma coleção de diversos objetos que chegaram até alguém das mais variadas maneiras e que representam os Totens de seus animais de Poder ou Guias da Natureza. Dentro de uma Sacola de Talismãs você poderá encontrar alguns objetos tais como sementes, um pedaço de tabaco, uma bolota de seiva ressecada do tronco do pinheiro, um cacho de escalpo, um dente de Alce, crina de cavalo, um cristal de quartzo, uma cauda de lontra, uma Pessoa de Pedra, um colar especial de contas ou qualquer outro objeto que represente alguma Magia especial para o dono da sacola.

Nos tempos antigos muitos destes objetos possuíam algum significado especial para os membros das Tribos e Nações da América Nativa. Por exemplo, entre os indígenas Crow acreditava-se que um dente de Alce traria abundância material ao seu dono. Um pedaço de pano azul significava boa sorte, o pêlo e as garras do Urso ajudariam a manter o Cavalo do Guerreiro em boa forma, e uma asa de Andorinha traria o poder de fugir dos inimigos.

As Sacolas de Talismãs podiam ser utilizadas nas mais diversas situações. Existiam Sacolas para a Cura Pessoal, Sacolas Tribais, Sacolas de Guerreiros, Sacolas da Dança do Sol, Sacolas de Parto, Sacolas de Caça, Sacolas de Sonho e Sacolas de Visão. Algumas eram fabricadas por um Xamã ou uma mulher Xamã, atendendo as necessidades especiais de quem iria usá-las, enquanto outras podiam ser fabricadas até mesmo pelos seus próprios donos. Havia casos em que Sacolas de Talismãs eram repassadas a alguém da família antes da morte de um de seus membros, ou eram entregues a algum membro respeitável da Tribo. Através desta transmissão assegurava-se o uso correto e a boa conservação das Sacolas de Talismãs.

Cada Sacola de Talismãs vinha acompanhada de seu próprio conjunto de regras. Assim, por exemplo, um Nativo poderia possuir uma Sacola de Guerreiro que lhe transmitisse grande força nas batalhas, e os Guias ligados a esta Sacola poderiam tê-lo proibido de comer a carne de um cervo fêmea e pintar o rosto com tinta azul. A delicadeza típica deste animal poderia tolher suas ações na Contagem de Golpes. Já a face pintada de azul poderia atraí-lo para a Estrada Azul do Espírito, provocando uma morte prematura. Cada Sacola possui um objetivo específico, e quase todas possuem regras destinadas a reforçar a Magia dos Guias da Sacola. Ações irrefletidas podem desestabilizar a harmonia estabelecida entre os Guias de Cura e a pessoa que busca assistência. É necessário que haja respeito pelo sentido natural de ordem da sacola. Estas mesmas regras se aplicam a uma sacola bem menor, que a pessoa usa, e que é denominada Bolsa de Talismãs.

Alguns Guerreiros adquiriam modelos de Sacolas de algum membro da Tribo por quem tivessem especial admiração. Porém estes Bravos deveriam receber uma visão pessoal de sua própria Magia, ou ficariam sem receber proteção. Os Guias da Natureza sempre eram invocados, mas por esse ou aquele motivo alguns Guerreiros não recebiam os seus Sonhos de Cura. Eu acho que isto acontecia porque eles haviam perdio contato com o aspecto mais feminino e receptivo de sua própria Energia, já que eram obrigados a se submeterem a provas muito duras para continuar no Clã dos Guerreiros. De qualquer maneira, ser um Guerreiro desprotegido significava morte em idade prematura.

Não se devia jamais mentir sobre as mensagens recebidas do seu Totem de Poder, ou inventar visões para o próprio Caminho, pois isto significava um convite certo para o desastre. Por outro lado, um Bravo que não possuísse a sua Magia Pessoal constituía um problema para toda a Tribo. O problema acabava sendo resolvido pelos sábios Xamãs, pelos Chefes ou pelos Grandes Guerreiros. Eles aceitavam receber cavalos ou outros objetos de valor em troca do modelo de sua própria Sacola de Talismãs. O fabricante da Sacola jamais colocava todos os objetos que representavam sua proteção pessoal, na cópia que fazia para os outros. A razão disto era que entregar toda a sua Magia a outra pessoa colocava o seu próprio espírito em risco. Não se devia revelar a nenhuma outra pessoa todos os itens que compunham uma Sacola de Talismãs Pessoal. Se alguém estivesse tentando prejudicar algum líder poderoso da Tribo, poderia atingir esta pessoa através do conhecimento de sua Vibração Pessoal e do uso de feitiçaria. O roubo de uma Sacola de Talismãs era punido com a pena de morte. De modo geral era proibido tocar em qualquer objeto pessoal de outros membros da Tribo – homens, mulheres ou crianças -, a não ser que se fosse convidado a fazê-lo.

As Sacolas Tribais eram chamadas Avós, e eram as mais antigas e respeitadas, sendo consideradas Wakan (sagradas). A seguir vinham as Sacolas da Dança do Sol e as Sacolas dos Guerreiros. Esta hierarquia do Sagrado refletia a Magia e a Força com que cada Sacola havia protegido a Tribo por longos períodos de tempo. Cada inverno bem-sucedido aumentava a força destas Sacolas Protetoras.

Os padrinhos dos Bravos, pessoas já reconhecidas pelos seus atos de coragem, eram os responsáveis pela fabricação das Sacolas individuais da Dança do Sol. O padrinho colocava alguns Totens nas Sacolas da Dança do Sol, que, em geral, já haviam pertencido a muitas linhagens de Guerreiros Ancestrais. Poerém nenhuma Sacola era considerada mais sagrada do que as Sacolas Tribais. Estas Sacolas Avós ocupavam o posto mais alto na hierarquia porque representavam a Magia mais antiga, experimentada e testada. Elas representavam também a combinação de espíritos de todos os Membros da Tribo – das gerações passadas, presentes e futuras. As Sacolas Tribais eram chamadas Avós porque carregavam em si a Energia alimentadora de que todos os seus filhos necessitam. Assim como acontece com todas as Avós do Planeta, estas Sacolas Avós procuram atender a seus netos da melhor forma possível.

As Sacolas Tribais já passaram por uma longa hierarquia de Guardiães. Houve um momento em que as Sacolas precisaram receber sua própria tenda, e eram colocadas no acampamento como uma proteção para a Tribo. Essas Sacolas Avós costumavam ser protegidas por Chefes muito honrados pelo grupo e que possuíam uma Energia de Cura muito poderosa.

As Sacolas Tribais eram consideradas seres vivos; jamais eram deixadas sozinhas nem ficavam desprotegidas. Hoje em dia as Sacolas Avós estão guardadas em locais secretos e muitas delas são protegidas pelas Avós Anciãs e também por alguns Xamãs. Elas figuram entre objetos mais sagrados do nosso povo e conservam o espírito de todas as Nações Nativas Americanas.

As Sacolas de Talismãs Pessoais podem ser usadas ou carregadas por seu dono. Costuma-se invocar as Sacolas toda vez que é necessário obter força e coragem durante as atividades diárias. Há Bolsas de Talismãs que são amarradas ao redor do pescoço, e que constituem versões reduzidas da Sacola de Talismãs. As Bolsas de Talismã servem como lembrete para quem as usa. Elas recordam ao portador os dons, habilidades e talentos dos Animais de Poder; estas qualidades o ajudarão a caminhar com altivez e em equilíbrio. As Bolsas também são usadas como proteção.

As Sacolas usadas pelas mulheres não são muito comentadas na história escrita por causa dos segredos que devem ser guardados no seio da Fraternidade das Mulheres. O Clã dos Guerreiros sabia que as mulheres possuíam uma natureza mais receptiva devido às suas características femininas. Assim, eles sempre honravam as mulheres por causa do seu conhecimento interior e da intuição que possuíam. As Sacolas de Talismãs femininas podiam ser usadas para aumentar a fertilidade, para ajudar o Guerreiro que acompanhava a mulher, para pesquisar novas técnicas de cura à base de ervas, ajudar no nascimento de uma criança, trazer abundância para sua tenda ou, ainda, para ajudar a manter a felicidade da família. As mulheres sempre possuíam a sua Sabedoria particular, e honravam suas próprias Sociedades. Elas não tinham necessidade de suportar os rigores dos testes de força física para conseguir adquirir mais Visão. As Mulheres são as Mães da Força Criativa do Universo e recebem naturalmente as mensagens dos seus Guias de Cura, o que as ajuda a manter e conservar a força de suas Sacolas da Fraternidade Feminina.

Cada objeto que vem se tornar parte de sua Magia pessoal pode ser colocado num pedaço de pele e embrulhado como você faria com um presente, dobrando todos os quatro cantos da pele para o centro e amarrando a Sacola quatro vezes com cordões de pele curtida de cervo. As Sacolas de Talismãs possuem tamanhos variados, que podem ir de um saquinho tão pequeno que caiba na palma da mão até uma Sacola do tamanho de um bebê recém-nascido. Algumas Sacolas de Talismãs ficam enroladas enquanto outras são dobradas nos pedaços de couro. Também se pode colocar alguns dos objetos menores numa Bolsa de Talismãs e usá-la pendurada à cintura ou colocada em volta do pescoço.

Se quiser confeccionar uma Sacola de Talismãs para alguém em especial, você precisa saber primeiro qual é a espécie de Energia que deseja partilhar com ele. Depois, invoque os Quatro Chefes de Clãs para mandarem um sonho ou uma visão que lhe indique tudo o que deve ser colocado dentro. Esta Sacola de Talismãs pode ser para uma jovem mãe que está com medo de sua primeira gravidez, um rapaz que está entrando para o Serviço Militar, um adolescente que está para escolher uma carreira, um casal recém-casado, alguém que esteja comprando terras e que necessita de um Espírito Guardião que proteja estas terras ou, ainda, alguém enfermo. Qualquer espécie de Sacola constitui um presente dos Níveis Superiores, e só deve ser ofertada a pessoas que saibam honrar a sagrada responsabilidade de possuir uma Sacola de Talismãs.

Se você é um Ancião, talvez queira transmitir a sua Sabedoria a uma pessoa mais jovem, em quem deposite confiança, sabendo que ela irá aceitar a responsabilidade com honra e coragem. A Sacola também pode ser repassada a outra pessoa, se você sente que vai largar o seu Manto (morrer). Quando uma pessoa larga o Manto antes de passar sua Sacola de Talismãs para outra, deve-se queimar a Sacola junto com todoas os outros pertences da Medicina Sagrada da pessoa falecida. Isto é feito para que o espírito não conserve os seus laços de Energia Sutil atados a esta Roda da Vida e possa encaminhar-se livremente em direção à Estrada Azul do Espírito.

Aceitar a Sabedoria que lhe foi transmitida por um Ancião ou por alguma pessoa de muito Poder não é uma tarefa simples. Saber respeitar a vida e os atos de outra pessoa e saber comportar-se de uma forma que deixaria o dono desta Magia orgulho, é uma grande responsabilidade a ser assumida. Se você desonrar a vida deste Ancião ou então a sua Sabedoria, os seus Guias de Cura poderão deixá-lo em maus lençóis. Os Guias consideram que qualquer ato realizado em nossa vida física é sagrado em seu próprio tempo. Os Guias nos ensinam como e quando experienciar em beleza cada um dos nossos atos ao longo do Caminho Sagrado.

Canção da Meia Noite – Professora na Tenda Escolar do Clã do Lobo da Nação Seneca