O Bom e Sagrado Caminho Vermelho

Em nossa caminhada, levando a cura através da medicina da Arte Xamânica a muitos irmãos e irmãs, recebemos inúmeras bênçãos, sejam por palavras, gestos, sorrisos, alegrias, descobertas e a amizade que vamos fortalecendo com cada um que vem compartilhar conosco esta sagrada medicina.

Assim, através da beleza da entrega e do amor incondicional, o Grande Espírito coloca em nosso caminho as bênçãos de receber e compartilhar informações verdadeiras e embasadas no profundo conhecimento das culturas ancestrais espalhadas pelo mundo e pelo tempo, que compartilhamos com todos aqui neste espaço sagrado, por saber que o "Tempo das Nuvens Negras" chegou ao fim e a luz da informação e do conhecimento nativo verdadeiro deve ser transmitido com urgência a todos os buscadores da luz.

Como diz Hotashugmanitu Tanka: "estamos aqui para semear e compartilhar, fazendo brilhar a Roda do Arco Íris neste início do Tempo do Búfalo Branco, trazendo a consciência da totalidade, a paz e a serenidade para os irmãos de todas as cores".

Que assim seja!

Marcelo Caiuã e Bianca Martins


Alce Negro fala

Alce Negro e John Neihardt
"Alce Negro Fala", foi originalmente publicado em 1932, em Nova Iorque e nasceu de um encontro providenciado pelo Grande Espírito. O poeta e historiador John Neihardt, que há trinta anos se relacionava com os Omahas e os Sioux, estava em 1931 compondo uma vasta obra poética sobre o Oeste em que a resistência dos índios das Planícies desempenhava um papel considerável. Por esse motivo deslocou-se à reserva de Pine Ridge, no Dakota do Sul, para entrevistar alguns anciãos que tivessem testemunhado a Dança dos Espíritos (Ghost Dance) e o massacre de Wounde Knee (1890).

Mas Neihardt encontroou mais do que esperava; porque conheceu Alce Negro, e porque Alce Negro, embora não conhecesse Neihardt, estava à sua espera.

Alce Negro (1863-1950), que viveu o período do final da invasão européia às terras indígenas do Oeste, testemuhou um cataclismo social; o plano de fundo da sua narrativa é a destruição do modo de vida dos nativos da América do Norte. No entanto, o fato de ter desejado transmitir a todas as pessoas a sua visão, revela o que foi a sua perspectiva: longe de considerar extinta a cultura nativa americana, o sábio lakota acreditava na sua renascença, sob outras formas. É essa a significação primeira deste livro, confirmada pelo interesse que ele passou a despertar num mundo que rechaça a espiritualidade e o sagrado.

A edição origninal deste livro não foi um êxito. Nos anos 30, nos Estados Unidos, a maioria das pessoas continuava a encarar os índios como gente bárbara, sendo por isso incapaz de compreender sua espiritualidade, que se alicerça numa profunda veneração da terra e de toda a natureza. E a obra, que teve poucos leitores não ficou muito tempo em circulação. Os poucos leitores que teve porém, souberam apreciá-la em profundidade. Um deles foi Carl Jung, que já nos anos 20 estudara o pensamento dos peles vermelhas. A primeira tradução de Black Elk Speaks ficou assim a dever-se a Jung, que em 1955 convenceu um editor de Zurique a publicá-lo em alemão.

Foi laboriosa a gestação desta obra. Em maio de 1931, John Neihardt, acompanhado das suas filhas de 14 e 19 anos, ficou três semanas vivendo com Alce Negro e sua família, partilhando todos a modesta cabana do velho lakota. Foram dias intensos, de conversações que iam de manhã até a noite, com frequencia até ás 11 da noite. Nos encontros participaram cinco outros anciãos lakotas, também eles testemunhas oculares dos acontecimentos referidos. Como Alce Negro não falava inglês, escolheu para intérprete o seu filho Ben, que era bilingue. Alce Negro falava uns minutos em lakota, Ben traduzia para o inglês e a filha de Neihardt, Enid, ágil estenógrafa, vertia as falas para texto. O trabalhoso processso ia de encontro à fidelidade que o poeta desejou imprimir à narrativa.

O memorável encontro destes dois homens, raro naquela época, fez deles e de suas respectivas famílias amigos para sempre, criando a sua estimulante relação e raízes que continuam a dar fruto."