2º Ritual Lakota
Oinikare - Ritual de Purificação feito na itipi - tenda de suar
O Oinikare, feito na itipi: Dele participam todos os Poderes do Universo: a Terra e tudo o que nasce dela; a água, o fogo e o ar. A água representa os Seres Trovão, que aparecem de uma maneira terrível mas trazem benefícios, porque o vapor que sai dos penhascos onde estão os fogos é pavoroso, mas nos purificam e nos permitem assim viver como quer o Grande Espírito. Se nos tornamos realmente puros, pode ser até que o Grande Espírito nos envie uma visão.
Quando empregamos a água na itipi, devemos fixar nosso pensamento no Grande Espírito, que se expande sem cessar comunicando Seu Poder e sua Vida a todas as coisas, devemos, também, nos esforçar sempre em ser semelhante a água, que é a mais humilde de todas as coisas e, ao mesmo tempo, é mais forte que a rocha. A itipi é construída com doze ou dezesseis salgueiros jovens; eles também nos ensinam algo, pois no outono suas folhas morrem e regressam à Terra, e na primavera voltam à vida.
Da mesma forma, os homens morrem, mas renascem no Mundo Real do Grande Espírito, onde há somente os espíritos de todas as coisas; e esta vida verdadeira nós podemos conhecer aqui na terra se purificarmos nossos corpos e nossas almas, nos aproximando assim do Grande Espírito que é Todo Pureza.
Os salgueiros que formam a armação da itipi são encravados no solo de uma maneira que indiquem as Quatro Direções do Universo; deste modo o conjunto da itipi representa o Universo em imagem, e ela protege os povos bípedes, quadrúpedes e alados e a todas as coisas do mundo; todos estes povos e todas estas coisas devem ser purificados antes de poder enviar uma voz ao Grande Espírito.
As pedras que empregamos neste ritual representam a nossa Mãe Terra, de onde provem todos os frutos, mas as pedras representam também a Natureza Indestrutível e Eterna do Grande Espírito. O fogo que esquenta estas pedras representa o Poder do Grande Espírito, que dá vida a todas as coisas, é como um raio de sol, porque o sol também é, em certo aspecto, o Grande Espírito.
O lugar redondo que no meio da itipi é o Centro do Universo, nele mora o Grande Espírito com seu Poder, o fogo. Todas estas coisas são sagradas para nós e devemos compreender profundamente se desejamos nos purificar verdadeiramente, o poder de uma coisa ou de um ato reside em seu significado e na compreensão que nós temos dele.
A itipi sempre é construída com a porta para o Leste, porque é de lá que vêm a Luz da Sabedoria. A uns dez passos da itipi construímos um lugar ritualístico chamado Peta Owihankeshni (Fogo Sem Fim), é ali que se esquentam as pedras. Para fazer este lugar empregamos quatro bastões na direção Leste-Oeste, sobre os quais colocamos outros quatro bastões na direção Norte-Sul; em seguida cravamos ao redor deste monte uns bastões que formam um cone como se fosse para fazer uma itipi, primeiro ao Oeste, depois ao Norte, ao Leste e ao Sul, depois colocamos pedras nestas quatro direções e para terminar colocamos sobre este conjunto certa quantidade de pedras. Enquanto edificamos este lugar devemos rezar desta maneira:
"Ó Wakantanka, este é o Teu Fogo Eterno que nos foi dado nesta Grande Ilha. É Tua vontade que construamos este lugar de uma maneira conforme ao Mistério. Este Fogo arde sempre, graças a Ele renasceremos, purificados e mais perto de Teus Poderes."
Para edificar, na itipi, o altar central para onde serão levadas as pedras quentes, começamos cravando um bastão no solo, no centro da itipi, e ao redor deste ponto traçamos um círculo com uma tira de couro.
Enquanto fixamos este centro sagrado devemos rezar assim:
"Ó Avô e Pai Wakantanka, que fez tudo o que existe, Tu que sempre foi, me olhe. E Tu, Avó e Mãe Terra, Tu és sagrada e tens santos ouvidos, me escute. Saímos de Ti, somos uma parte de Ti e sabemos que nossos corpos regressarão a Ti quando nossos espíritos partirem pelo grande caminho. Ao fixar este centro na terra me recordo de Ti, a quem meu corpo regressará, mas, acima de tudo, penso no Grande Espírito, com o qual nossos espíritos se unificarão. Me purificando deste modo desejo ficar digno de Ti, ó Wakantanka, para que meu povo viva!"
É cavado então um buraco no centro da itipi, e com a terra recolhida é traçado um caminho que conduz para fora da itipi em direção ao Leste e em cujo extremo se levanta um pequeno monte daquela terra, ao fazer isto, rezamos assim:
"Sobre Ti, Avó Terra, quero estabelecer o caminho sagrado da vida. Ao nos purificar para a tribo caminharemos por este caminho com passo firme, porque ele conduz ao Grande Espírito, e nele há quatro passos sagrados. Que nosso povo caminhe por este caminho! Que sejamos puros! Que renasçamos!"
Depois, enviando uma voz ao Grande Espírito, gritamos:
"Avô Wakantanka, aprendemos Tua Vontade e sabemos que passos sagrados devemos dar. Com a ajuda de todas as coisas e de todos os seres, vamos te enviar nossa voz. Seja misericordioso conosco! Ajude-nos! Coloco-me neste caminho e Te envio minha voz pelos Quatro Poderes que sabemos que não são mais que Um Só Poder. Ajude-me em tudo isto, ó Avô meu, Wakantanka! Seja misericordioso conosco! Ajude meu povo e todas as coisas a viver de um modo conforme ao Mistério, de um modo que Te seja agradável! Ó Wakantanka, ajude-nos a renascer!"
A pessoa que dirige o Oinikare entra agora na itipi só e com seu Tchanunpa. Dá a volta no sentido do movimento do sol e se senta a Oeste, depois consagra o buraco central, que se converte assim em um altar, colocando nele umas pitadas de tabaco em cada uma de suas quatro partes. É introduzida na itipi uma brasa que é depositada no centro, o oficiante queima então erva aromática (sálvia) e espalha a fumaça por todo seu corpo, e depois por seus pés, cabeça e mãos, em seguida o Tchanunpa é purificado na fumaça. Desta maneira tudo é consagrado, e se ficou alguma influência impura na itipi, é expulsa pelo Poder da fumaça.
Neste momento o oficiante deve oferecer um pouco de tabaco ao Poder Alado do lugar onde o sol se põe, de onde vêm as águas purificadoras, se invoca este Poder e se pede Sua ajuda no Oinikare. Depois o tabaco é colocado no Tchanunpa e do mesmo modo é oferecido umas pitadas de tabaco aos demais Poderes: ao Norte, de onde vêm os ventos purificadores, ao leste de onde sai o sol e de onde vêm a Sabedoria, ao Sul, que é o início e o fim de toda a vida, ao Céu e, finalmente, à Mãe Terra.
Enquanto se invoca a ajuda de cada Poder e se coloca cada pitada de tabaco no Tchanunpa, todos os que estão fora da itipi exclamam: "How!"
Porque estão contentes e satisfeitos que se cumpra o Mistério. Agora que o Tchanunpa está cheio e que foram consagradas todas as coisas, o oficiante sai da itipi, avança até o Leste pelo caminho sagrado e coloca o Tchanunpa sobre o montinho de terra, com o fornilho para o lado oeste e a haste para o Leste. Todos os que vão ser purificados entram então na itipi, com o oficiante na frente, e cada um deles, no momento em que se inclina para entrar, pronuncia esta reza:
"Hi ho! Hi ho! Hi ho! Hi ho! Graças sejam dadas! Ao inclinar-me para entrar nesta itipi me recordo de que sou nada frente a Ti, ó Wakantanka, que és todo. És Tu quem nos colocou neste Ilha, somos os últimos seres criados por Ti, que és o Primeiro e que sempre foi. Ajude-me a me purificar aqui, antes que Te envie minha voz. Ajude-nos em tudo o que vamos fazer!"
Logo que entram na itipi, os homens lhe dão a volta no sentido do movimento do sol e se sentam sobre a sálvia sagrada espalhada pelo solo, o oficiante está sentado ao Leste, de frente para porta. Todos permanecem silenciosos durante um momento, recordando-se da bondade do Grande Espírito e recordando-se de que Ele é quem criou todas as coisas. O Tchanunpa é então introduzido na itipi pelo ajudante, que via de regra é uma mulher, esta pessoa permanece fora durante o ritual. O homem sentado a oeste pega o Tchanunpa e o põe a sua frente com a haste dirigida para o Oeste. Com um bastão com uma forquilha, a ajudante retira do Fogo Sagrado uma das pedras e, pelo caminho, a leva próxima da itipi, em seguida a empurra para o interior, onde é colocada no centro do altar, esta primeira pedra está dedicada ao Grande Espírito, que está no centro de todas as coisas. O homem sentado a Oeste toca então a pedra com a base do Tchanunpa, e faz o mesmo cada vez que uma pedra é posta sobre o altar, e todos os homens exclamam:
"Hay ye! Graças sejam dadas!"
A segunda pedra que entra na itipi é posta a Oeste do altar, a seguinte ao Norte, outra ao Leste, outra ainda ao Sul, e, por último. há outra pedra para a Terra; finalmente o buraco é cheio com o resto das pedras, as quais representam tudo o que existe no mundo. O homem do Oeste oferece então o Tchanunpa ao Céu, à Terra e às Quatro Direções, o acende e, depois de dar algumas baforadas, espalha a fumaça por todo seu corpo; em seguida dá o Tchanunpa ao homem que está à sua esquerda, dizendo:
"How Ate ou How Tunkashila", segundo o seu grau de parentesco.
O que recebe a saudação diz o mesmo, e assim o Tchanunpa percorre todo o círculo no sentido do movimento do sol. Quando retorna a ele, o homem que está a Oeste o purifica por medo de que alguma pessoa impura o tenha tocado, e recolhe cuidadosamente as cinzas, que coloca na borda do altar. Esta primeira vez do emprego do Tchanunpa na itipi, é feita em recordação da Santa Mulher Búfalo Branco, que antigamente entrou na itipi de uma maneira misteriosa e andou transformando-se.
O Tchanunpa passa de mão em mão até o oficiante principal, que está sentado a Leste; o oficiante suspende o Tchanunpa um instante por cima do altar com a haste dirigida para o Oeste, e a devolve para a ajudante, que permanece fora da itipi, ela o enche de forma ritualística e o recoloca sobre o montinho sagrado, com o fornilho dirigido para o Leste e a haste para o Oeste, porque é o Poder do Oeste o que agora se invoca. O ajudante fecha a itipi, submergindo-a assim em uma obscuridade completa, esta obscuridade representa a escuridão da alma, a ignorância da qual agora devemos nos purificar para receber a luz. Durante a realização do Oinikare, a porta se abrirá quatro vezes e deixará penetrar a luz; isto nos recorda as quatro idades e como, pela bondade do Grande Espírito, recebemos a luz em cada uma destas idades. O homem do Oeste lança então uma voz ao Grande Espírito gritando quatro vezes:
"Hi ey hey i i! Hi ey hey i i! Hi ey hey i i! Hi ey hey i i!"
Isto é o que dizemos quando temos necessidade de ajuda ou quando estamos desamparados, e, não estamos agora na obscuridade, e não temos necessidade da luz? Em seguida o mesmo homem grita quatro vezes:
"Envio minha voz! Escuta-me!
Envio minha voz! Escuta-me!
Envio minha voz! Escuta-me!
Envio minha voz! Escuta-me!"
Envio minha voz! Escuta-me!
Envio minha voz! Escuta-me!
Envio minha voz! Escuta-me!"
E depois:
"Wakantanka, Avô, Tu és o primeiro e Tu o tens sido sempre. Tu nos conduzistes a esta Grande Ilha na qual nosso povo deseja viver conforme o Mistério. Ensina-nos a conhecer e a ver todos os Poderes do Universo, e dá-nos a sabedoria de compreender que não são realmente mais do que Um Só Poder. Que nosso povo Te envie sempre sua voz enquanto caminha pelo caminho sagrado da vida! Ó pedras antigas, Tunkayatakapa, estão aqui presentes; o Grande Espírito fez a Terra e as colocou muito perto dela. As gerações caminharão sobre vocês e seus passos não vacilarão. Ó pedras, vocês que não tem olho, nem boca, nem membros, vocês que não são móveis, mas com vosso corpo sagrado, o vapor, nosso povo marchará pelo caminho da vida com esperança potente, sua esperança é a da vida! Há um Ser Alado, ali onde o sol desce até seu repouso, que controla as águas, a elas, que todos os seres devem a vida. Ó vocês, árvores, que estão sempre em pé, que surgem da Terra e que chegam a tocar o Céu, povo em pé, são numeráveis, mas um dentre vocês foi escolhido para sustentar esta itipi sagrada de purificação, segundo o Mistério. Vocês, povos árvores, são os protetores dos povos alados, porque sobre vocês eles constroem suas "tipis" e criam as suas famílias, e debaixo de vocês há muitos povos aos quais protegem. Que eles, com todas as suas gerações, caminhem juntos como parentes! A cada coisa terrestre, ó Wakantanka, destes um Poder, e porque o fogo é a mais poderosa de Tuas criações, porque ele consome tudo, nós o colocamos em nosso centro, e quando o olhamos ou quando pensamos nele nos lembramos realmente de Ti. Que este Fogo Sagrado esteja sempre em nosso centro!"
O oficiante principal salpica então as pedras com água, uma vez para nosso Avô, Tunkashila, uma vez para o nosso Pai, Ate, outra vez para nossa Avó, Untchi, uma vez também para nossa Mãe, Ma, a Terra, e uma última vez, para o Tchanunpa; esta aspersão é feita com um raminho de sálvia ou de outra erva aromática, para que o vapor seja cheiroso, e enquanto este se eleva e enche a itipi, o oficiante exclama:
"Ó Wakantanka, olha-me! Eu sou o seu povo. Ao me oferecer a Ti ofereço o povo inteiro como um só ser, a fim de que viva. Desejamos renascer. Ajuda-nos!"
Neste momento na itipi faz muito calor, mas é bom experimentar estas qualidades purificadoras do fogo, do ar e da água, e sentir o cheiro da sálvia sagrada. Após estes Poderes atuarem sobre nós, a porta se abre recordando a primeira idade, aquela em que recebemos a luz do Grande Espírito. É trazida água, e o oficiante sentado no lado Leste a faz circular no sentido do movimento do sol, cada uma das pessoas bebe um tanto ou borrifa seu corpo com umas gotas. Ao fazer isto pensamos no lugar onde se põe o sol e de onde a água provem, e o Poder desta Direção nos ajuda a rezar.
A ajudante, que fica do lado de fora da itipi, pega o Tchanunpa que estava no montinho de terra e o oferece ao Céu e à Terra, e depois de avançar pelo caminho ritualístico o entrega, apresentando a haste ao homem sentado a Oeste da itipi. Este o oferece às Seis Direções, dá algumas baforadas e passa a fumaça no corpo, em seguida o Tchanunpa dá a volta no círculo até que seja fumado completamente. O homem que está a Oeste o esvazia, deposita as cinzas ao lado do altar central e o devolve para o exterior, como antes. A ajudante o enche novamente e o recoloca no montinho sagrado com a haste apontada para o Norte, porque durante o segundo período de obscuridade que haverá na itipi se invocará o Poder do Ser Alado do Norte. A porta é fechada novamente e os ocupantes se submergem pela segunda vez na obscuridade. Agora o homem que está ao Norte reza:
"Olha, ó Águia Negra do lugar onde o Gigante Wazia têm sua tipi! O Grande Espírito te colocou aí para controlar o caminho. Estás aí com a finalidade de guardar a saúde dos homens, para que vivam. Ajude-nos com teu vento purificador! Que ele nos faça puros para que caminhemos pelo caminho segundo o Mistério, de um modo agradável ao Grande Espírito! Ó Avô Wakantanka, Tu estás por cima de tudo! És Tu quem colocou sobre a Terra uma pedra sagrada que está agora no centro do nosso círculo. Tu nos deste, também, o fogo, e ali onde o sol se põe, deste o Poder a Wakinyantanka, que controla as águas e guarda o Tchanunpa muito santo. Colocaste um Ser Alado no lugar onde sai o sol, que nos dá a sabedoria, e também colocaste um Ser Alado no lugar para o qual nós voltamos sempre, ele é a fonte da vida e nos conduz pelo Caminho Vermelho. Todos estes Poderes são Teu poder, e não são na realidade mais que Um Só, todos estão agora aqui, nesta itipi. Ó Wakantanka, Avô, que está por cima de tudo, é tua vontade a que aqui cumprimos! Pelo Poder que vem do lugar onde vive o Gigante Wazia nós voltamos tão puros e tão brancos como a neve recém caída. Sabemos que nos encontramos na obscuridade, mas logo virá a luz. Quando sairmos desta itipi, que deixemos para trás de nós todos os pensamentos impuros, toda ignorância!"
Em seguida é derramada água sobre as pedras, quatro vezes para os Poderes das Quatro Direções, e enquanto o vapor se eleva, entoamos um canto, isto nos ajuda a compreender o Mistério de todas as coisas, e o trovão amortecido de nosso tchantchera nos recorda os Seres Trovão do Oeste que controlam as águas e que trazem a bondade.
A porta da itipi se abre pela segunda vez, o que representa a vinda dos Poderes Purificadores do Norte, e nos faz ver a luz que expulsa as trevas, como a sabedoria que dissipa a ignorância. Se dá água ao oficiante sentado a leste, ele a oferece aos demais homens mencionando seu grau de parentesco ou a idade de cada um deles, como descrevi acima. O Tchanunpa é introduzido novamente na itipi e entregue ao homem que está sentado ao Norte, este homem o oferece às Seis Direções, o acende e, depois de dar algumas baforadas, assopra seu corpo com a fumaça, em seguida o Tchanunpa da a volta no círculo.
Quando todo o tabaco foi consumido o Tchanunpa volta ao Norte, onde é purificado, suas cinzas são depositadas perto do altar central. Depois é devolvido à ajudante, que o enche de novo e o deposita sobre o montinho, com a haste voltada para o Leste, porque agora vamos invocar o Poder Desta Direção. A porta é fechada e o homem que está sentado a Leste da itipi envia agora sua voz:
"Ó Wakantanka, por fim vimos a claridade, a luz da vida! Tu deste o Poder da sabedoria à Estrela do Amanhecer no lugar de onde sai o sol. O Ser Alado que guarda este caminho têm um alento poderoso, e com os dois dias sagrados que destes a ele, ó Wakantanka, ele tem guardado o caminho da tribo. Ó Tu que controlas o caminho de onde sai o sol. Olha-nos com teus dias vermelho e azul, e ajuda-nos a enviar nossas vozes ao Grande Espírito! Ó Tu que possuis o conhecimento, dá-nos uma parte de tua ciência para que nossos corações se iluminem e para que conheçamos tudo o que é sagrado! Ó Estrela do Alvorecer, do lugar onde sai o sol! Ó Tu que tens a sabedoria que nós buscamos, ajude-nos a nos purificar, assim como ao povo, para que nossas gerações futuras possuam a luz para caminhar pelo Caminho Sagrado! Tu és quem conduz a Aurora quando avança, e também ao dia que lhe segue com Sua Luz, que é conhecido. Tu fazes isto para nós e para todos os povos que existem no mundo, para que vejam claro ao seguir o caminho e para que conheçam tudo o que é santo e cresçam em conformidade com o Mistério."
Novamente é colocada água sobre as pedras; depois começamos a cantar. Em seguida, quando o calor nos penetrou bem, é aberta a porta pela terceira vez e pela teceira vez a luz do Leste nos inunda. Enquanto o Tchanunpa passa às mãos do homem que está a Leste, todos exclamam:
"Hi ho! Hi ho! Hi ho! Hi ho! Graças sejam dadas!"
E o oficiante levanta o Tchanunpa para o Céu e envia sua voz:
"Wakantanka, damos graças pela luz que nos destes por meio do Poder do luagrr onde sai o sol. Ajuda-nos, ó Poder do Leste! Seja misericordioso conosco!"
O Tchanunpa é aceso e é fumado por todo o círculo, e quando termina, a ajudante o pega e o deposita sobre o montinho com a haste apontando para o Sul. É passada novamente a água pelas pessoas do círculo no sentido do movimento do sol, e cada um fricciona o corpo inteiro especialmente o topo da cabeça e o peito, depois disso a porta é fechada pela última vez. É o homem sentado ao Sul quem agora envia sua voz:
"Avô Wakantanka, Olhe-nos! Colocaste um Grande Poder no lugar para o qual nos voltamos sempre, e muitas gerações têm vindo desta Direção e têm regressado a Ela. Há um Ser Alado nesta Direção que guarda o Caminho Vermelho por onde tem vindo as gerações. A geração que hoje está aqui deseja lavar-se e purificar-se a fim de renascer! Queimaremos sálvia como oferenda ao Grande Espírito, e seu cheiro se estendará pelo Céu e pela Terra, e assim os quadrúpedes, os povos alados, os povos das estrelas do céu, serão todos parentes. De Ti, ó Avó Terra, que és humilde e nos leva em Teu seio como uma mãe, emanará este perfume, que Seu Poder seja sentido em todo o Universo, e purifique os pés e as mãos dos homens para que avancem pela Terra Sagrada levantando suas cabeças para o Grande Espírito!"
Toda a água que resta é colocada agora sobre as pedras que estão ainda muito quentes, e enquanto o vapor se desprende e penetra em todas as coisas, cantamos um canto de Mistério. Em seguida o oficiante fala assim:
"A ajudante abrirá a porta pela última vez dentro de uns instantes, e quando estiver aberta veremos a luz. É desejo do Grande Espírito que a claridade entre nas trevas para que possamos ver não só com nossos dois olhos, mas também com o Olho Único que há no Coração, Tchante Ishta, com o qual vemos e conhecemos tudo o que é verdadeiro e bom. Damos graças a ajudante, que suas gerações sejam benditas! Está bem! Terminamos! Hetchetu yelo!"
Quando se abre a porta da itipi os homens exclamam:
"Hi ho! Hi ho! Hi ho! Hi ho! Graças sejam dadas!"
E todos são felizes, porque saíram das trevas e vivem agora na luz. A ajudante trás rapidamente uma brasa do Fogo Sagrado e a põe no caminho ritualístico, em frente ao umbral da itipi. Enquanto queima sálvia sobre esta brasa, diz:
"Este é o aroma do Grande Espírito. Por ele, os bípedes, os quadrúpedes, os seres alados e todos os povos do Universo serão felizes e se alegrarão."
O oficiante purifica suas mãos e seus pés na fumaça e, em seguida, levanta os braços para o céu e reza:
"Hi ho! Hi ho! Hi ho! Hi ho! Wakantanka, hoje foi um dia bom para nós, Te agradecemos por ele, ponho agora meus pés sobre a Terra. Cheio de felicidade, caminho pela Terra Sagrada, nossa Mãe, que as gerações futuras caminhem também desta maneira, segundo o Mistério!"
Todos os homens deixam a itipi seguindo o movimento do sol, e também eles purificam suas mãos e pés, e rezam ao Grande Espírito, como foi feito pelo oficiante. Então o Oinikare termina, e os que tomaram parte nele estão como se tivessem nascido de novo, fizeram muito bem, não só a si mesmos, como também para toda a Nação. Quem sabe também deva mencionar isso:
Sempre quando estamos na itipi, há crianças que introduzem suas cabeças no seu interior e pedem ao Grande Espírito que purifiquem suas vidas.
Nós não lhes chamamos a atenção, porque sabemos que as crianças pequenas têm um coração inocente. Quando saímos da itipi somos semelhantes as almas que foram guardadas, tal como descrevi, e que regressam ao Grande Espírito depois de serem purificadas, também deixamos para trás, na itipi, tudo o que é impuro, a fim de viver como quer o Grande Espírito, e a fim de conhecer algo deste Mundo Verdadeiro do Espírito, que está escondido atrás deste mundo sensível. O Oinikare é muito sagrado e é realizado antes de todas as coisas grandes que nos exigem pureza ou força, há muitos invernos nossos homens e também nossas mulheres, praticavam o Oinikare todo dia, e às vezes inclusive várias vezes ao dia, uma grande parte de nossa força nos veio disto. Agora que temos descuidado do Oinikare, perdemos grande parte deste poder, choro quando penso nisso. E rezo para que o Grande Espírito queira mostrar a nossos jovens a importância desta prática venerável.
Mitakue Oyassin.
***
É permitida a reprodução desta postagem desde que citada as fontes conforme abaixo:
Fonte: Os
rituais sagrados foram traduzidos deste livro - Black Elk Speaks -
publicado pela primeira vez em 1932 pelo historiador John Neihardt,
ditado pelo nosso Amado Pai Sagrado Hehaka Sapa em 1931.
Tradução: Hotashungmanitu Tanka na Yutan Kimimila - Witchashawakan
Publicação: wakanwood.blogspot.com