Wanági Yuhápi - A Guarda da Alma
Com
este ritual purificamos as almas de nossos mortos e o nosso amor pelo próximo aumenta. As quatro
mulheres virgens que comem a parte do Búfalo, como o descreverei, irão sempre
recordar de que seus filhos serão santificados e que, por conseguinte, deverão
ser criados conforme o mistério. A mãe deve sacrificar tudo por seus filhos e
desenvolver nela e neles um grane amor por Wakan Tanka, O Grande Espírito, pois
com o tempo estas crianças se tornarão Homens de Mistério e Guias da Nação, e
terão o poder de converter em santos os demais. No princípio guardávamos só as
almas de nossos Grandes Chefes, porém mais tarde, passamos a guardar as almas
de quase todos os homens virtuosos.
Guardando
uma alma segundo os ritos prescritos, tal como os recebemos de Petsan-Win – A
Mulher Búfalo Branco – nós a purificamos a fim de que esta alma e o Espírito se
convertam em um e para que possa regressar ao lugar aonde foi criada – Wakan
Tanka – e ela não tenha nenhuma necessidade de vagar pela terra, como é o caso
dos homens perversos, além disso, a guarda de uma alma nos ajuda a termos
consciência, de nossa mortalidade, assim como do Grande Espírito que está além
da morte. Quando se guarda uma alma, muitos homens se recolhem à tenda dela
para rezar, e o dia em que a alma é liberada todos se reúnem e enviam suas
vozes ao Grande Espírito por esta alma que vai viajar por seu caminho sagrado.
Porém vou lhes explicar primeiro como nosso povo realizou este ritual pela
primeira vez. Um bisneto de Chifre Oco em Pé, tinha um filho o qual ele e sua
mulher desejaram muito. Porém chegou um dia em que este menino morreu o que
entristeceu muito o seu pai, que foi falar de seu sofrimento ao Guardião do
Cachimbo, que naquele tempo era Grande Chifre Oco.
“Temos
sido instruídos pela Mulher Búfalo Branco no uso do Cachimbo Sagrado e na
guarda de uma pessoa falecida. Agora a partida de meu amado filho me causa
muita tristeza, e desejo guardar sua alma como nos foi ensinado, e posto que tu
és o Guardião do Cachimbo Sagrado, te peço que me instruas.”
“How!”
Disse Grande Chifre Oco, e os dois foram até o lugar onde repousava o menino e
no qual estavam as mulheres chorando. Quando chegaram as lamentações cessaram
imediatamente; Grande Chifre Oco se acercou do menino e disse:
“Este
menino parece morto, porém não está realmente morto, pois guardaremos sua alma
entre nós, e graças a ela nossos filhos e os filhos de nossos filhos se
converterão em santos. Vamos agora proceder como a Mulher Búfalo Branco e o
Cachimbo Sagrado nos tem ensinado. É desejo do Grande Espírito que assim se
faça.”
E
tomando uma mecha dos cabelos do menino, Grande Chifre Oco orou:
“Oh
Wakan Tanka, veja-nos! É a primeira vez que fazemos Tua vontade desta maneira,
como Tu nos ensinaste através da Mulher Búfalo. Guardaremos a lama deste menino
para que nossa Mãe Terra dê seus frutos, e para que nossos filhos caminhem pela
estrada da vida conforme o mistério.”
Grande
Chifre Oco se dispôs então a purificar a mecha de cabelo e, levando-a sobre o
caminho de fumaça, o dirigiu ao Céu, à Terra e as Quatro Direções e disse à
alma que estava nos cabelos:
“Olhe,
oh alma! O lugar desta terra no qual morres será um lugar sagrado; este centro
fará com que a Nação seja sagrada como tu. Nossos filhos caminharão a partir de
agora pela estrada da vida com coração puro e passo firme.”
Depois
de purificar a mecha de cabelo na fumaça, Grande Chifre Oco se voltou de frente
para a mãe e o pai do menino e disse:
“Obteremos
uma grande sabedoria graças a esta alma que acaba de ser purificada. Sejam bons
com ela e a amem, pois foi santificada. Cumprimos os desejos do Grande
Espírito, tal como nos ensinou a Mulher Celeste. Não se lembram de quando ao
deixar-nos, voltou pela segunda vez? Este gesto representa a guarda da alma que
vamos levar a cabo. Que isto nos ajude a recordar que todos os frutos dos Seres
Alados, dos Duas Pernas, e dos Quatro Patas são na realidade todos do Grande
Espírito. Todos são sagrados e devem ser tratados como tal.”
A mecha
de cabelo foi envolta em uma pele de gamo e este precioso saquinho foi colocado
em um lugar especial na tenda. Então Grande Chifre Oco, tomou o Cachimbo e
depois de purificá-lo na fumaça, o encheu com cuidado segundo o ritual e dirigindo
o canhão para o céu, orou:
“Nosso
Avô Wakan Tanka, Tu és tudo e, no entanto estás acima de tudo! Tu és o
primeiro, Tu tens sido sempre. Esta alma que guardamos estará no Centro do Círulo
Sagrado desta Nação: Graças a este
Centro nossos filhos possuirão um coração valente e avançarão pelo Reto Caminho
Vermelho segundo o mistério. Oh Wakan Tanka! Tu és a Verdade. Os homens que
tocam seus lábios neste Cachimbo se converterão na Verdade; não haverá neles
nada impuro! “Ajuda-nos a caminhar sem problemas pela estrada da vida, com
nossos pensamentos e nossos corações constantemente fixos em Ti.”
Então
acendeu e fumou o Cachimbo, e deu a volta em círculo no sentido do movimento do
sol. Nele, o mundo enteiro foi oferecido ao Grande Espírito. Quando o Cachimbo
voltou a Grande Chifre Oco, ele o esfregou
com erva aromática por cada lado, oeste, Norte, Leste, Sul, a fim de
purificá-lo, por receio de que pudesse ter sido tocado por alguém indigno, e
voltando-se a assistência disse:
“Meus
Parentes, este Cachimbo é um santuário. Todos sabemos que não podemos mentir.
Nenhum homem que tenha alguma mentira em seu coração pode levá-lo à sua boca.
Ademais, oh meus parentes, nosso Pai Wakan Tanka nos tem feito conhecer Sua
vontate aqui na Terra, e devemos sempre cumprir o que Ele disse se queremos ir
pelo Caminho Sagrado. É a primeira vez que realizamos este ritual da Guarda da
Alma, e será de um grande proveito para nossos filhos e para os filhos de seus
filhos. Oh, meus Parentes, oh, Avó e Mãe Terra, somos de terra e vos
pertencemos! Oh, Mãe Terra de quem recebemos nosso alimento! Tu velas por nosso
crescimento como o fazem nossas próprias mães. Cada passo que damos sobre Ti
deve ser conforme o mistério, cada passo deve ser como uma oração. Lembre-se
disso, irmãos e irmãs: o poder desta alma pura os acompanhará em vosso caminho,
pois ele também é fruto da Mãe Terra, és uma semente que, plantado em vosso
centro, crescerá com o tempo em vossos corações de fará que as gerações
caminhem conforme o mistério.”
Grande
Chifre Oco levantou então a mão e enviou sua voz ao Grande Espírito:
“Oh,
Pai e Avô Wakan Tanka! Tu és o começo e o fim de todas as coisas. Meu Pai Wakan
Tanka, Tu és o Uno que vigia e mantém tudo o que vive. Oh minha Avó, Tu és a
fonte terrestre de toda existência. Mãe Terra, os frutos que dá são a fonte de
vida dos povos da Terra. Tu velas sem cessar por teus frutos, como uma mãe. Que
os passos que damos sobre Ti durante a vida sejam sagrados e sem
enfraquecimento.”
“Ajudá-nos,
oh Wakan Tanka, a caminhar pelo Caminho Vermelho com passo firme. Que nós, que
somos Tua Nação, possamos estar de pé diante de Ti de um modo que Te sejamos
gratos. Dá-nos a força que vem da compreensão de Teus Poderes! Porque nos tem
feito conhecer Tua vontade, queremos caminhar santamente pela estrada da vida,
levando em nossos corações o amor a Ti e o conhecimento de Ti. “Por isto, e por
todas as coisas, Te damos graças.”
Então
envolveram o corpo do menino em um saco, e
os homens o levaram a um lugar elevado e afastado do acampamento, o
depositaram sobre um andaime levantado em uma árvore. Quando regressaram,
Grande Chifre Oco foi à tenda com o pai do menino para ensinar-lhe como deveria
prepar-se para o grande dever que iria cumprir e que o santificaria.
“Guardas
agora a alma de teu filho.” - Disse
Grande Chifre Oco. – “Teu filho não está morto, está contigo. A partir desse momento
deverá viver segundo o mistério, pois teu filho estará nesta tenda até que sua
alma seja liberada. Lembre-se que os costumes que adotar neste momento nunca
deverão ser abandonados. Assegura-te que nehuma pessoa má entre na tenda onde
guarda a alma, e que não haja ali nenhuma discussão nem disputa, a paz deverá
reinar sempre em tua tenda. Todas estas coisas têm uma influência sobre a alma
que aqui está se purificando. Tuas mãos estão consagradas, trata-as como tal. E
teus olhos também estão, quando olhares os teus parentes e todas as coisas,
olha-os com os olhos do espírito. Tua boca também está consagrada, que cada
palavra que disser reflita este estado de graça no qual viverá a partir de
agora. Sempre levantarás a cabeça para olhar o céu. Cada vez que comer um fruto
da Mãe Terra, alimenta igualmente a teu filho. Se fizeres isto e tudo o que
tenho te ensinado, o Grande Espírito será misericordioso contigo. Dia e noite
teu filho estará contigo, vela por sua alma todo o tempo, pois assim te
recordarás sempre do Grande Espírito. A partir deste dia estás santificado, e
como eu te instruí, tu também instruirá os outros. O Cachimbo Misterioso
seguirá seu caminho durante muito tempo, até o fim, assim também a alma de teu
filho. É assim, seguramente. Hetchetu Yelo!”
Antes
de explicar-lhes como é liberada a alma, é bom que saibam de algumas obrigações
que o guardião da alma deve conhecer e cumprir. Quem guarda uma alma não deve
nunca guerrear, nem sequer manejar uma faca com nenhum fim. Rezar
constantemente, ser um exemplo em todas as coisas, tal como sua conduta. O povo
deve amar e honrar este santo homem, e levar-lhe sempre alimentos e presentes;
por sua vez, o guardião da alma deverá oferecer com muita freqüência seu
Cachimbo ao Grande Espírito, para o bem de todos.
Quando
um grupo de guerreiros sair para caçar, o santo guardião da alma deve
acompanhá-los, e enquanto os demais caçam, ele deverá sentar-se com seu
Cachimbo e enviar sua voz aos Poderes do Alto para que a caçada seja boa, e
para o bem de toda a tribo. Se matarem um Búfalo Fêmea, o animal pertence ao
guardião da alma, e ele deve sentar-se a seu lado, deve encher seu Cachimbo,
oferecendo primeiro um pouco de Kinnikinnik (uma mistura de tabaco e casca seca
de bétula ou de uma árvore chamada dog wood) aos Poderes Alados do Oeste, do
Norte, do Leste e do Sul, depois deve levantar um último punhado de Kinnikinnik
para o céu como oferenda ao Grande Espírito, no Qual estão todos os Poderes.
Uma vez que o Cachimbo tenha sido carregado deste modo, deve dirigir o canhão
para os olhos do Búfalo, e deve rezar assim:
“Oh
Wakan Tanka! Tu nos tem ensinado Tua vontadae por meio de irmão de quatro patas
para que Teu povo possa caminhar pelo Caminho Sagrado, e para que nossos filhos
e os filhos de nossos filhos sejam benditos. Tu, Tatanka tens quatro idades,
quando te voltastes pela última vez, vimos que Tu és o fruto de nossa Mãe Terra
que nos faz viver. Esta é a razão pela qual será o primeiro a ser colocado no
Centro do Círculo de nossa Nação, Tu que fortalece nossos corpos e também
nossos espíritos quando Te tratamos segunda a regra celeste. Graças a Ti, que
nos foi revelada a vontade do Grande Espírito. Tem agora uma alma santa no
Centro do nosso Círculo. Tu estarás alí com ela, e desde ali dispensará a
felicidade a Teu povo. Venha agora a este centro.”
Alguns
homens instruídos pelo guardião da alma cortam então o Búfalo assim consagrado,
pronunciam orações apropriadas segundo a parte de carne que cortam. A dos
membros dianteiros representa os Duas Pernas, diante da Mulher Celeste que
trouxe o Cachimbo, esta carne é, porém, particularmente sagrada – lilla wakan –
e não pode ser manipulada sem veneração. O guardião da alma não procede ele
mesmo os cortes, visto que o contato com a faca e com o sangue lhe está
proibido. Porém é permitido a ele levar ao acampamento esta carne sobre seu
cavalo, assim como o couro, que é igualmente sagrado e está destinado a um uso
especial. Sua chegada ao acampamento é anunciada por um homem que ora, e a
carne é levada em seguida para a tenda do guardião da alma. Neste momento um
dos ocupantes de tenda se dirige a alma:
“Neto,
o alimento escolhido permanecerá no Centro desta tenda, que é tua morada. Será
muito proveitoso para a Nação. Hetchetu Yelo!”
Na
tenda onde reside a alma deve encontrar-se permanentemente uma mulher que tenha
sido escolhida para cuidar do saquinho de mistério, a primeira a quem se
recomendou este piedoso dever foi a Mulher Dia Vermelho. Esta pessoa está
encarregada de secar ao sol a carne sagrada com a qual se faz a wasna (carne
seca triturada com cerejas silvestres e untada com medula de Búfalo, pintada de
um modo especial), que se conserva até o
dia em que a alma é liberada. Nos dias apropriados, estas relíquias são levadas
ao exterior e suspendidas em um tripé, voltada para o Sul, a gente se reúne
então, em grande número para trazer oferendas e para orar, o que é muito
misterioso, Seus presentes são postos em uma toca de coelho pintada de um modo
especial, para ser mais tarde distribuídos aos pobres. Depois de ser curtida
segundo os ritos, a pele de Búfalo é pintada e purificada novamente na fumaça
de erva aromática. Então o guardião da alma a levanta para as Quatro Direções
do Universo, dizendo:
“Oh,
alma, meu neto, mantenha-se firmemente sobre esta Terra e olha ao teu redor,
olha para o céu, para as Quatro Direções do Universo e para a Mãe Terra! E Tu,
Búfalo que estas realmente presente nesta pele, tem vindo a nós para nosso
maior bem, agora vai unir-se com esta alma. Os dois estarão no Centro do
Círculo da Nação e representarão a unidade do povo. Ao depositar esta pele
sobre ti, oh alma, a ponho sobre toda a tribo, como se esta formasse uma só
alma.”
Uma vez
que o saquinho de mistério tenha sido suspendido no tripé diante da tenda, se
põe em cima dele a pele de Búfalo com o pelo voltado para fora, na ponta do
tripé deve-se colocar um adorno de guerra feito com as penas de Wambali
Galeshka (Águia Pintada). Os ajudantes estão autorizados a manipular estes
objetos, porém somente o guardião da lama pode tocar o saquinho. O leva sempre
sobre o coração e cada vez que leva este saquinho à tenda primeiro o oferece ao
Céu e depois à Terra e as Quatro Direções do Universo. Antes que possam levar a cabo os rituais que
liberam a alma, devem reunir muitas coisas, o que pode levar vários anos, porém
a duração normal da guarda de uma alma é um ano. Se o guardião morre antes de
terminar este prazo, é sua mulher que guarda a alma, assim como a alma de seu
marido, e se a mulher morre, os ajudantes são os encarregados de guardar estas
três almas, sua função implica em muita responsabilidade e é uma grande honra.
Quando
uma alma vai ser liberada, todo mundo se reúne, pois todos participam deste
rito misterioso. Com antecedência, todos os homens saem para caçar Búfalos, e
uma vez que se tenham mortos vários animais, os ossos são retirados e
guardados, desta mistura de gordura e medula se faz o wasna; as mulheres secam
o melhor pedaço de carne, que recebe o nome de papa. Todos estes preparativos
tem um caráter ritual. Depois de se reunir com os demais homens santos da
tribo, o guardião da alma indica o dia conveniente para o ritual, e quando este
dia chega, os ajudantes constroem com várias tendas uma grande tenda ritual e
cobrem o solo com sálvia sagrada. O ajudante do guardião da alma prepara então
o Cachimbo Sagrado e, levantando-o para o céu exclama:
“Olhe,
oh Wakan Tanka! Vamos cumprir agora Tua vontade. Com todos os seres do Universo
Te oferecemos deste Cachimbo.”
Toma um
pouco de tabaco ritual, o kinnikinnik, e levantando-o ao mesmo tempo em que o
canhão do Cachimbo olha para o Oeste, exclama:
“Com
este tabaco consagrado Te colocamos, oh Poder do Oeste, neste Cachimbo. Vamos
enviar nossas vozes ao Grande Espírito e pedimos Tua ajuda. Este dia é sagrado,
pois uma alma vai ser liberada. Em todo o Universo haverá felicidade e alegria.
Oh, Tu, Poder Celestial do Lugar onde o Sol se põe, fazemos uma grande coisa ao
colocar-te neste Cachimbo. Dá-nos para realizar nossos rituais, um dos dois
dias sagrados vermelho e azul que Tu controlas.”
O Poder
do Oeste, misteriosamente presente agora neste tabaco, é introduzido no
Cachimbo. O ajudante levanta outro pouco de kinniknnik ao Norte e faz esta
oração:
“Oh Tu,
Ser do Trono onde Wazia tem sua tenda, Tu que vem com os ventos purificadores e
que conserva o vigor dos homens, oh Águia Negra do Norte, tuas asas não se
cansam nunca! Para Ti também tem um lugar neste Cachimbo que vamos oferecer ao
Grande Espírito. Ajudá-nos e dá-nos um de teus dois dias sagrados.”
Levantando
então outro pouco de kinnikinnik para o Leste, o ajudante continua sua oração:
“Oh,
Tu, Ser Sagrado do Lugar onde nasce o Sol, que controla o conhecimento. A Ti
pertence a Estrada do Sol Nascente que traz a luz ao mundo. Teu nome é Huntka;
Tu possui a sabedoria e tuas asas são largas. Para Ti também tem um lugar no
Cachimbo, ajudá-nos a enviar nossa voz ao Grande Espírito. Dá-nos teus dias sagrados!”
Assim
se introduz o Poder do Leste no Cachimbo, e o ajudante levanta um pouco de
kinnikinniki para o Sul, com esta oração:
“Oh, Tu
que guarda o caminho que leva ao lugar para o qual nos voltamos sempre, e para
onde caminham nossas gerações. Colocamos-te neste Cachimbo de Mistério! Tu controlas
nossa vida e as vidas de todos os povos do Universo. Tudo quanto se move e tudo
quanto existe enviará uma voz ao Grande Espírito. Temos um lugar para Ti no Cachimbo,
ajudá-nos a enviar nossa voz e dá-nos um de teus dias bons! Isto é o que Te
pedimos, oh, Cisne Branco do lugar para onde sempre voltamos.”
Continuando,
o ajudante dirige o canhão do Cachimbo e um pouco de kinnikinnik para a
terra:
“Oh,
Tu, Terra Sagrada de onde saímos, Tu és humilde ainda que nutras todas as
coisas, sabemos que és sagrada e que somos teus filhos. Avó e Mãe Terra
Fecunda, para Ti tem um lugar neste Cachimbo, oh Mãe, que Tua Nação avance pela
estrada da vida, efrentando os ventos fortes! Que caminhemos sobre Ti com firmeza!
Que nossos passos não vacilem jamais! Nós e tudo o que se move sobre Ti
enviamos nossas vozes ao Grande Espírito. Ajuda-nos. Todos juntos gritamos numa
só voz, ajuda-nos!”
Quando
o Cachimbo foi carregado deste modo com todoas os Poderes e tudo o que contém o
Universo, o ajudante do guardião da alma recebe na tenda, entre lamentos, o
Guardião do Cachimbo Sagrado. Deposita o Cachimbo dirigindo o canhão para o
Sul, nas mãos do Guardião:
“Hi ho!
Hi ho!” Disse o homem santo ao receber o Cachimbo. “Este Cachimbo que me trazes
é em verdade tão sagrado com o Cachimbo Original que recebemos da Mulher Búfalo
Branco. Em verdade, para aquele que compreende são relamente o mesmo. Porém o
que acabas de me entregar é particularmente sagrado, pois contém todo o Universo.
Que desejam?”
“Desejamos
que fume este Cachimbo e que dirija os rituais destinados a liberar a alma de
meu filho pequeno. Desejo que traga o Cachimbo Original que está sob seus
cuidados.”
“How,
Hetchetu Yelo!” – Respondeu o homem santo.
Oferece então o Cachimbo ao Céu, a Terra e as Quatro Direções e fuma. Depois de
fumar recolhe piedosamente as cinzas, pois elas também estão santificadas. Então
os dois homens vão à tenda, na qual tudo está preparado para o grande ritual.
Dão a volta nela no sentido do movimento do sol e se sentam a Oeste, e do lado
oposto da entrada. A mulher do guardião da alma vem trazendo o saquinho
misterioso e, diante do Guardião do Cachimbo, deposita a relíquia em suas mãos
extendidas. “Graças te são dadas.” – Disse o homem santo – e se dirige a
alma guardada no saquinho:
“Oh
alma, estavas com teu povo, porém agora partirás. Este dia é teu dia, e é
sagrado. Olha, teu Pai Wakan Tanka se inclina sobre ti para te ver. Todo o teu
povo veio para estar contigo. Todos teus parentes te amam, têm cuidado de ti.
Tu e a Santa Mulher das Quatro Idades que nos trouxe o Cachimbo estão juntos
agora neta tenda, esta pele de Búfalo que representa a Mulher Celeste e que te
cobria, cobrirá todo o teu povo! O Cachimbo que Ela nos trouxe tem feito feliz
a tribo. Olha! Este é o dia Sagrado! Hetchetu Yelo!”
No solo
se traça um círculo perfeito que representa uma manada de Búfalo, e dentro se
deposita o saquinho de mistério. Com a terra que é retirada deste lugar se
forma outro círculo no qual se traça uma cruz de Oeste a Leste e de Norte a
Sul. O Cachimbo é posto sobre esta cruz, com o canhão dirigido para Oeste e o
fornilho para o Leste. O saquinho misterioso é posto então ao lado do Cachimbo,
no extremo da Boa Estrada Vermelha, pois este é o lugar para o qual a alma
agora viajará. Um dos ajudantes se acerca do fogo que tem no centro da tenda e
com um bastão aforquilhado retira dele uma brasa que põe diante do Guardião do
Cachimbo. Este segura o Cachimbo com a mão esquerda, toma um pouco de erva
aromática com a mão direita, a dirige para o céu e a abaixa lentamente na
brasa., detendo-se quatro vezes e orando desde modo:
“Oh Avô
Wakan Tanka, neste dia sagrado que é Teu, Te envio esta fragrância que subirá
até o céu. Nesta erva está a terra, a Grande Ilha, e nela está minha Avó, minha
Mãe e todos os povos de quatro patas, alados e de duas pernas, que caminham
todos segundo o mistério. O cheiro desta erva se extenderá por todo o Universo.
Oh Wakan Tanka, sede misericordioso com todos.”
Então o
fornilho do Cachimbo é levantado sobre a fumaça, esta passa através do Cachimbo
e sai pelo canhão dirigido para o céu. Deste modo o Grande Espírito é o
primeiro a fumar, mediante este ato ritualísitco, o Cachimbo é purificado. O
Guardião reza assim:
“Oh
Wakan Tanka, olha este Cachimbo! A fumaça desta erva deve cubrir todas as
coisas da Terra, e deve chegar ao Céu. Que a Estrada do Teu povo seja
semelhante a esta fumaça! Temos Te oferecido este Cachimbo, e agora ponho em
seu fornilho o kinnikinnik. Tu nos tem ensinado que o fornilho redondo deste
Cachimbo, é o verdadeiro Centro do Universo e o coração do homem! Oh Wakan
Tanka! Inclina-Te para olhar-nos, olha Teu Cachimbo com o qual vamos enviar uma
voz com os povos alados, os de quatro patas e todos os frutos de nossa Mãe
Terra. Tudo o que Tu tens feito se une a nós para enviar esta voz.”
Ao
preparar o Cachimbo, seu santo Guardião faz oferendas ritualísticas de tabaco
às Seis Direções com as orações seguintes:
“Oh,
Tu, Poder de onde o sol se põe. Tu és sagrado! Contigo e por teu intermédio
enviamaos uma voz ao Grande Espírito antes de liberar esta alma. Tem um lugar
para Ti neste Cachimbo. Ajudá-nos! Dá a Teu povo Teus dias vermelho e azul para
ele possa caminhar pela estrada da vida segundo o mistério.”
“Oh
Poder Alado do lugar onde vive Wazia, purificador da Terra, dos homens e de
tudo o que é impuro, com a alma de um homem vamos enviar uma voz ao Grande
Espírito por Teu intermédio. Tem um lugar para Ti no Cachimbo, ajudá-nos a
enviar esta voz! Dá-nos os dias sagrados que Tu possuis.”
“Oh Tu,
Ser Alado do lugar de onde vem o sol, Tu que tens grandes asas e que controla o
conhecimento, Luz do Universo, vamos enviar uma voz ao Grande Espírito com esta
alma que tem estado junto a seu povo! Tu também possui os dois grandes dias
vermelho e azul, dá-nos estes dois dias
e ajudá-nos a enviar uma voz.”
“Oh,
Tu, Maghaska, Cisne Branco do lugar para o qual sempre retornamos. Tu controlas
o Caminho Vermelho que conduz para onde Wazia tem sua tenda. Tu guias a todos
os povos de quatro patas e de duas pernas que viajam por esta Estrada de
Mistério. Vamos liberar uma alma que partirá por Tua estrada, mediante esta
alma enviamos uma voz ao Grande Espírito. Ajudá-nos a enviar esta voz, dá-nos
teus dois dias sagrados.”
“Oh,
Águia Pintada, que estas no céu, próxima do Grande Espírito, Tuas asas são
poderosas! Tu és quem vela sobre o Círculo da Nação e sobre tudo o que está
contido neste Círculo. Que todos os povos sejam felizes e recebam muitas
bênçãos! Vamos liberar uma alma que parte para uma longa viagem, a fim de que
os passos de suas gerações futuras sejam santificados. Tem um lugar para Ti no
Cachimbo! Ajudá-nos a enviar nossa voz ao Grande Espírito e dá-nos os dias
sagrados vermelho e azul que Tu possui.”
“Oh
Wakan Tanka, vamos oferecer-Te este Cachimbo. Inclina Teus olhos sobre nós e
sobre nossa Avó e Mãe, a Terra. Tudo o que gera a nossa Mãe, a fonte terrena de
toda a vida, é sagrado. Nosso povo caminha sobre Ela. Que seus passos sejam
firmes e fortes! De Ti, Avó Terá, uma alma vai ser liberada. Neste Cachimbo tem
um lugar para Ti e para todas as criaturas! Todos unidos, como um único ser,
enviamos nossa voz ao Grande Espírito. Ajudá-nos a caminhar segundo o mistério
de uma maneira que Te agrada. Dá-nos os dias sagrados vermelho e azul que Tu
reges.”
Deste
modo o Universo inteiro esta contido no Cachimbo, voltando-se então para a
assistência, o Guardião do Cachimbo disse:
“Agora
que cumprimos tudo isto corretamente, a alma fará uma boa viagem e ajudará nosso
povo a prosperar e a caminhar pelo caminho sagrado dde uma maneira que agrada
ao Grande Espírito.”
Se
dirige então a alma:
“Oh
alma, meu neto, tu és a raiz deste grande rito. De ti emanará muitas coisas
santas, com este ritual nosso povo aprenderá a ser generoso, a ajudar os que
estão necessitados e a seguir em tudo os ensinamentos do Grande Espírito. Oh
alma, este é teu dia. Agora é chegado o momento. Haverá quatro virgens que
levarão sempre em si o poder destes ritos. E tu, oh alma, as cubrirtá com tua
pele sagrada de Búfalo. Este dia é um dia de alegria, pois muita luz está
descendo sobre nosso povo. Todos os que estiveram contigo no passado estão
agora aqui contigo. Teus parentes estão vindo com alimentos que serão
purificados e que te serão oferecidos, e que serão dados as quatro virgens, e depois repartidos entre
os pobres e desaventurados. Mas agora é hora de ofercer este Cachimbo ao Grande
Espírito e de fumá-lo. Te oferecemos tudo quanto há no Universo. Te enviamos
nossas vozes mediante este Cachimbo. Hetchetu Yelo! Hi hei Hei i i! Hi hei
Hei i i! Tunkashila Wakan Tanka! Avô, Grande
Espírito, inclina teus olhos sobre nós! Este é o dia sagrado desta alma. Que
ela ajude as gerações futuras a caminhar conforme o mistério! Te oferecemos
este Cachimbo, oh Wakan Tanka, e Te pedimos que ajude esta alma, a seus
parentes a todo o povo. Olha este Cachimbo e inclina-Te para ver como cumprimos
Tua vontade! Te enviamos uma voz desde a Terra! Sede misericordioso conosco e
também com esta alma que será liberdada desde o Centro do Círculo da Nação. Oh
Avô Wakan Tanka, tem piedade de nós, para que nosso povo viva.”
Aquele
que antecede a assistência responde: Hai i!
Então Grande Chifre Oco ascendeu o Cachimbo, deu várias baforadas e o
passou ao guardião da alma, que O
ofereceu ao céu, à terra, e as Quatro Direções e depois de fumar um pouco, o
fez passar por todos os membros do círculo no sentido do movimento do sol.Ao
fumar, cada um pedia algum favor, e quando o Cachimbo voltou para Grande Chifre
Oco foi purificado e suas cinzas cuidadosamente recolhidas em um saquinho
especial feito de pele de gamo.
Agora
que o Cachimbo havia sido oferecido ao Grande Espírito, Grande Chifre Oco
começou a lamentar-se e toda a assistência fez o mesmo. Quem sabe não seja
inútil explicar-lhes que lamentar-se neste momento é uma boa coisa, pois indica
que pensamos na alma liberada e também na morte que espera a tudo quanto foi
criado, é sinal de que nos humilhamos diante do Grande Espírito, pois sabaemos
que somos como pó diante Dele, que É tudo e É Todo Poderoso.
Todos
os alimentos oferecidos a alma haviam sido colocados lá fora, então as mulheres
os levaram para atenda. Ali, no lado Sul, se havia levantado um poste de
madeira de salgueiro, da altura de um homem, e ao redor de seu extremo se havia
colocado um pedaço de pele de gamo no qual estava pintado um rosto, em cima
deste rosto se havia colocado um adornode guerra e ao redor do poste uma pele
de Búfalo. Este rosto representava a alma, se havia juntado a ela dois arcos,
as flechas, as facas e todas as demais posses do morto. As mulheres regressaram
à tenda com alimentos, e deram a volta no sentido do movimento do sol, depois
se detiveram ao Sul, onde abraçaram o poste da alma, e se retiraram após haver
depositado os alimentos.
Uma
porção de cada alimento oferecido a alma foi posto em uma gamela que foi
colocada diante os homens santos a Oeste. Neste momento entraram quatro virgens
e se situaram ao Norte, pois o Poder desta Direção é a Pureza. Então Grande
Chifre Oco se levantou e falou à alma:
“Oh
alma, tu és a raiz.. Tu és como a raiz da Árvore Sagrada que está no Centro do
Círuclo de nossa Nação! Que esta árvore floreça! Que nosso povo e os povos
alados e de quatro patas prosperem! Oh alma, teus parentes trouxeram alimento
que agora comerás e, graças a este ato, a bondade se extenderá por toda a
tribo, Oh alma, o Grande Espírito te deu quatro parentes que estão sentados no
Norte e que representam os teus parentes verdadeiros: Avô e Pai Wakan Tanka e
Avó e Mãe Maka, a Terra. Recorda-te destes quatro parentes que na realidade não
são mais que Um, e, com eles em teu espírito, lança um olhar para trás sobre
teu povo enquanto viaja pela Grande Estrada.”
Se fez
um pequeno buraco ao pé do poste da alma, Grande Chifre Oco, tomou então a
gamela que continha o alimento purificado e inclinando-se para o buraco disse à
alma:
“Começará
a comer este alimento sagrado. Quando for colocado em tua boca, sua influência
se extenderá e fará crescer e prosperar os frutos de nossa Mãe Terra. Tu Avó,
és santa! Estamos em pé sobre Ela e introduzimos este alimento em tua boca, Não
nos eabandone quando fores em direção a Wakan Tanka, e dirige um olhar para
trás sobre nós.”
Puseram
o alimento no buraco e derramaram sobre ele o suco de cerejas silvestres, este
suco é a água da vida. Continuando se cobriu a poça de água com terra. A alma
havia terminado sua última refeição. As quatro virgens se dispuseram então a
comer a carne de Búfalo sagrada e a beber o suco de cerejas silvestres. Poré,
antes os alimentos foram purificados na fumaça da erva aromática, depois disso
Grande Chifre oco se dirigiu as jovens:
“Nestas,
irão receber agora a influência espiritual da alma, por sua virtude, vós e
vossos filhos sereis santificados para sempre. Netas, não esqueçam de
compartilhar vossos alimentos e tudo o que possuem, pois o mundo nunca carece
de pobres, de órfãos e de velhos. Porém, acima de tudo, minhas netas, nunca
esqueçam vossos quatro grandes parentes, que representam vossos parentes aqui na
Terra. Vão agora comer e beber o fruto da Mãe Terra e, mediante este rito,
vocês e vossos frutos serão sagrados. Recordem-se sempre disto minhas filhas.”
Grande
Chifre Oco pegou a gamela e cada vez que punha um pouco de alimento na boca de
das virgens dizia:
“Ponho
este alimento em tua boca. É doce e tem o aroma do sagrado. O povo verá tuas
gerações futuras.”
Logo as
quatro virgens se inclinaram e beberam o suco de cerejas silvestres que estava
na gamela posta no solo, e quando terminaram de beber, Grande Chifre Oco disse:
“Netas,
tudo o que fizemos aqui está repleto de mistério - Lilla Wakan – o fizemos segundo as
instruções transmitidas pela Mulher Celeste que também era Búfalo, e que nos
trouxe o Cachimbo Sagrado. Ela nos disse que tinha quatro idades. Compreendam
profundamente, pois é importante. É uma grande coisa o que nós acabamos de
fazer. Hetchetu Yelo!”
Grande
Chifre Oco caminnhou então em círculo para o Sul e levantando o saquinho da
alma, ele disse:
“Neto,
irás partir para uma longa viagem. Teu e tua mãe, todos teus parentes te
amavam. Agora serão felizes.”
O pai
do menino abraçou o saquinho sagrado pondo-o em cada ombro, depois Grande
Chifre Oco disse:
“Tu
amavas o teu filho, e o teve guardado no Centro do Círculo de nosso povo. Seja
bom com os demais como foi com o seu filho. A influência misteriosa da alma de
teu filho estará com os homens, é como uma árvore que sempre florescerá.”
Grande
Chifre Oco desenhou um círculo ao Norte e tocando cada uma das virgens com o
saquinho de mistério, disse:
“Eis
aqui a árvore que foi escolhida para ser o centro de vosso Círculo Sagrado. Que
sempre prospere e floresça segundo o mistério.”
Levantando
então o saquinho para o céu, exclamou:
“Dirige
sempre teus olhares para o teu povo, para que este ande com passo firme pelo
Caminho Sagrado.”
Grande
Chifre Oco lançou este grito quatro vezes enquanto caminhava em direção à saída
da tenda e quando se deteve pela quarta vez, estava então do lado de fora,
diante da tenda gritou bem alto:
“Olha
por teu povo! Recorda-te dele!”
No
instante em que o saquinho passou pela saída da tenda, a alma foi liberada e
partiu pela Estrada dos Espíritos que conduz a Wakan Tanka. Desde o momento em
que a alma parte, o saquinho com a mecha de cabelo deixa de ser Wakan – Sagrada
– em um sentido direto, porém a família pode conserva-lo como recordação se
assim desejar. As quatro virgens
santificadas receberam uma pele de Búfalo cada uma e deixaram a tenda
imediatamente após Grande Chifre Oco. Assim terminou o ritual, em todo o
acampamento o povo era feliz e manifestava sua alegria, e se precipitava para
tocar as quatro virgens que agora eram Lilla Wakan, se haviam convertido em um
suporte permanente deste grande influência espiritual e em uma fonte inesgotável
de força e de coragem para a tribo.
Em 1890, mediante um decreto
que revela tanto imcompreensão quanto hostilidade e ignorância, o governo dos
Estados Unidos exigiu que todas as almas guardadas pelo povo Sioux fossem
liberadas numa data fixada arbitrariamente por ele, e proibiu o ritual da
Guarda da Alma.