“A descoberta de que demos uma volta para acabar no ponto de partida parece uma grande piada cósmica. Descobrimos que toda a nossa longa jornada é igual às jornadas das outras pessoas que dançaram de forma diferente, e também igual às vidas das pessoas que jamais trilharam qualquer caminho. Eu entendi, finalmente, que a minha viagem nada mais era do que um folhetim ou novela cósmica. Droga! Não há dúvida de que o Coiote consegue inventar lições hilariantes para podermos enxergar nossas danças individuais com uma visão mais ampla, através das lentes equalizadores do spotligth do infinito. Compreender que voltamos ao ponto de partida nos deixa sem saber se rimos ou choramos. Pela minha experiência, ao recomendo chorar de rir!”
Em muitas culturas nativas norte-americanas, o Coiote é chamado de Cachorro-que-Cura. Ele sempre vem para nos ensinar uma boa lição a respeito de nós mesmos. Aquele tipo de lição que nos faz rir para não chorar.
O Coiote possui muitos poderes de cura, mas nem sempre eles funcionam em seu próprio benefício, pois seu espírito trapaceiro às vezes acaba iludindo a si mesmo. Ninguém fica mais surpreso com o resultado de seus próprios truques do que o Coiote, que se torna então capaz de cair na armadilha que ele mesmo criou. Entretando de um jeito ou de outro, ele sempre sobrevive, muito embora seja incapaz de aprender com os próprios erros e logo esteja se encaminhando para um erro ainda maior. Ele pode perder uma batalha, mas nunca se considera derrotado.
O Coiote é um animal sagrado, e, na insensatez de seus atos, vemos o reflexo de nossa própria insensatez. Ao caminhar de um desastre para outro, o Coiote vai aprimorando seus recursos de auto-sabotagem até chegar às raias da perfeição neste campo (eu diria por experiência própria que ele ultrapassa a perfeição). Ninguém pode cegar os outros ou a si mesmo para a realidade com mais graça e facilidade do que este trapaceiro sagrado. Às vezes o Coiote se leva tão a sério que se torna incapaz de ver o óbvio: o trem que está prestes a passar em cima dele. É por isso que ele não acredita quando o desastre ocorre, e nem mesmo depois... Ele é capaz de se perguntar – Foi mesmo um trem que passou em cima de mim? Acho melhor dar mais uma olhada... – e lá vai ele de novo, rumo a um novo desastre!
A figura do Coiote simboliza o humor de todos os tempos, de todos os povos e de todas as eras. O grande humor cósmico se aplica a todos nós. O Coiote é capaz de convencer a todos que um Gambá tem cheiro de rosas. Porém, a verdade é que um Gambá cheira mal e continuará assim, apesar das afirmativas em contrário do Coiote.
Você se acha esperto demais para ser enrolado pelos outros? Pois então tenha a certeza de que o divino trapaceiro pode estar lhe preparando uma cilada na qual você poderá cair. O Coiote executa uma dança louca, incendeia o próprio rabo ao brincar com fogo, atira-se num lago para morrer queimado e quase morre afogado. O Coiote é capaz de seduzir uma estátua de bronze, mas está sempre se metendo numa enrrascada. Ele pensa que achou um osso, festeja ruidosamente, mas, quando vai verificar, descobre que se trata de uma serpente do deserto e que está fazendo papel de bobo diante de todos. Na verdade, o Coiote é você, sou eu, somos todos nós, pulando de trapalhada em trapalhada, de bobeira em bobeira, de enrascada em enrascada em nossas vidas. O show ainda não acabou. Prepare-se para mais gargalhadas – muitas mais...
Tente penetrar imediatamente no âmago de suas experiências e indague a si mesmo por que razão está fazendo as coisas que tem feito. Você está sendo vítima da energia do Coiote e iludindo a si mesmo? Está tentando enganar um adversário? Alguém está tentando lhe passar a perna? Tem feito brincadeiras de mau gosto com os outros? Tem agido irracionalmente só pelo prazer de cometer desatinos e ridicularizar os outros? É capaz de prejudicar os outros só para se divertir?
Por outro lado, pode ser que você ainda não esteja totalmente consciente de que anda se iludindo, nem do papel que está fazendo. Você podee ter incompatibilizado com sua família, seus amigos ou com as pessoas de um modo geral e, ainda assim, continuar achando que sabe o que está fazendo. Mas veja bem, Coiote, a verdade é que você já caiu em sua própria armadilha. Você criou uma maquinação inebriante, desconcertante e perturbadora que acabou confundindo até você mesmo.
Retire os óculos de prestigiador e veja a verdade emergir com clareza novamente por trás da cortina de auto-sabotagem que você estendeu diante de seu rosto. Tenha então senso de humor suficiente para rir de seus próprios erros, truques e desacertos. Ria, pois o riso tem um efeito regenerador.
Caso não seja capaz de rir de você mesmo e de seus disatinos, você perdeu o jogo. O Coiote sempre surge em nossas vidas quando as coisas estão sérias demais. A eficácia da cura do Coiote reside justamente no riso e na brincadeira, capazes de abrir caminho para novos pontos de vista.
Seja capaz de ver o lado positivo das abotagens que você mesmo perpetrou contra si próprio, pois elas podem ter servido para descartar aspectos indesejáveis de sua vida. Divirta-se, contando a alguém pedante e mentiroso que você acaba de retornar de St. Tropez em seu jatinho particular! Saiba rire, e sobretudo, saiba rir de si mesmo!
Fonte: Canção da Meia-Noite (Jamie Sams)