O Bom e Sagrado Caminho Vermelho

Em nossa caminhada, levando a cura através da medicina da Arte Xamânica a muitos irmãos e irmãs, recebemos inúmeras bênçãos, sejam por palavras, gestos, sorrisos, alegrias, descobertas e a amizade que vamos fortalecendo com cada um que vem compartilhar conosco esta sagrada medicina.

Assim, através da beleza da entrega e do amor incondicional, o Grande Espírito coloca em nosso caminho as bênçãos de receber e compartilhar informações verdadeiras e embasadas no profundo conhecimento das culturas ancestrais espalhadas pelo mundo e pelo tempo, que compartilhamos com todos aqui neste espaço sagrado, por saber que o "Tempo das Nuvens Negras" chegou ao fim e a luz da informação e do conhecimento nativo verdadeiro deve ser transmitido com urgência a todos os buscadores da luz.

Como diz Hotashugmanitu Tanka: "estamos aqui para semear e compartilhar, fazendo brilhar a Roda do Arco Íris neste início do Tempo do Búfalo Branco, trazendo a consciência da totalidade, a paz e a serenidade para os irmãos de todas as cores".

Que assim seja!

Marcelo Caiuã e Bianca Martins


Acreditamos que vocês são incomparávelmente mais pobres do que nós - Chefe Gaparian - 1676

"Vocês franceses, nos censuram injustamente, alegando que nossa terra é um pequeno inferno na Terra em constrate com a França, um paraíso terrestre, já que possui, como dizem, todo tipo de provisão em abundância. Também afirmam que somos os mais miseráveis e infelizes dos homens, vivendo sem religião, sem educação, sem honra, sem ordem social, numa palavra, sem regras, como os animais dos bosques e das florestas, privados de pão, vinho e uma infinidade de outros confortos que são comuns na Europa. Bem, irmãos, se ainda não sabem o que os índios realmente pensam do vosso país e das vossas nações, eu vou dizer agora.

Peço que acreditem, por mais que pareçamos miseráveis aos olhos de vocês, que nos julgamos muito mais felizes, porque nos contentamos com o que temos. Vocês se decepcionarão enormemente se pensam em nos convencer de que vosso país é melhor do que a nossa terra. Se a França fosse um paraíso terrestre como estão dizendo, seria sensato deixá-la? Por que abandonariam mulheres, filhos, parentes e amigos? Por que arriscariam a vida e as propriedades? E por que se entregariam a todos esses perigos, às tempestades e tormentas no mar, a fim de chegar a uma terra estranha e bárbara que consideram a mais pobre e menos afortunada do mundo? Quanto a nós, que estamos convencidos do contrário, dificilmente iríamos à França, pois temos boas razões para acreditar que lá encontraríamos pouca satisfação, visto que os próprios franceses a abandonam para vir enriquecer em nossas praias.

Além disso, acreditamos que vocês são incomparávelmente mais pobres do que nós, e não passam de simples empregados, ainda que aparentem ser grandes senhores e capitães, pois vemos que se glorificam em nossos velhos trapos, vestindo as miseráveis peles de castor, que nem mais usamos. Da mesma forma que vêm pescar conosco o bacalhau para encontrar o sustento e o conforto à miséria e à pobreza que os oprime. Nós, em contrapartida, encontramos todas as riquezas e comodidades entre nós mesmos, sem confusão, sem expor nossas vidas aos perigos que enfrentam constantemente em suas longas viagens. E se, de um lado, nos compadecemos de vocês na doçura de nosso repouso, de outro ficamos espantados com as atribulações que passam, dia e noite, a fim de carregar seus navios. Percebemos que vocês vivem, de um modo geral, apenas do bacalhau que pescam. Eternamente bacalhau, de manhã, ao meio-dia, à noite, sempre bacalhau. A tal ponto que, se querem comer algo melhor, é às nossas custas. Pois vocês são obrigados a recorrer aos índios, que tanto desprezam, e acompanhá-los nas caçadas, das quais tiram proveito.

Agora digam-me apenas isto, se ainda possuem bom senso: qual dos dois é o mais feliz? O que trabalha sem cessar e só consegue com muito esforço, o bastante para sobreviver, ou aquele que descansa tranquilamente e tem tudo o que precisa no prazer da caça e da pesca?

É verdade, que jamais fabricamos o pão e o vinho que a vossa França produz. Antes, porém, da chegada dos franceses a esta terra, não vivíamos os Gasparian, muito mais do que agora? Se já não temos nenhum daqueles de 130, 140 anos, é porque vamos aos poucos incorparando vossa maneira de viver. A experiência mostra que os mais longevos dentre nós, são aqueles que dispensam o pão, o vinho e a água ardente de vocês, contentando-se com a alimentação natural de castor, antílope, ave aquática e peixe, conforme os costumes dos nossos Ancestrais e de toda a Nação Gasparian. Saibam, portanto, de uma vez por todas, quero abrir meu coração a vocês irmãos:

Não há um índio sequer que não se considere infinitamente mais feliz e mais saudável que os franceses."