O Bom e Sagrado Caminho Vermelho

Em nossa caminhada, levando a cura através da medicina da Arte Xamânica a muitos irmãos e irmãs, recebemos inúmeras bênçãos, sejam por palavras, gestos, sorrisos, alegrias, descobertas e a amizade que vamos fortalecendo com cada um que vem compartilhar conosco esta sagrada medicina.

Assim, através da beleza da entrega e do amor incondicional, o Grande Espírito coloca em nosso caminho as bênçãos de receber e compartilhar informações verdadeiras e embasadas no profundo conhecimento das culturas ancestrais espalhadas pelo mundo e pelo tempo, que compartilhamos com todos aqui neste espaço sagrado, por saber que o "Tempo das Nuvens Negras" chegou ao fim e a luz da informação e do conhecimento nativo verdadeiro deve ser transmitido com urgência a todos os buscadores da luz.

Como diz Hotashugmanitu Tanka: "estamos aqui para semear e compartilhar, fazendo brilhar a Roda do Arco Íris neste início do Tempo do Búfalo Branco, trazendo a consciência da totalidade, a paz e a serenidade para os irmãos de todas as cores".

Que assim seja!

Marcelo Caiuã e Bianca Martins


Tatanka - A Gratidão

Os Sioux acreditam que, no início dos tempos, seu povo vivia no centro da Terra com os Búfalos. Quando vieram para a superfície, Wakan Tanka, O Grande Espírito, ordenou aos animais que servissem de alimento para a tribo. Mas ordenou aos Sioux: não deveriam caçar de forma desenfreada, pois no dia em que os Búfalos desaparecessem da face da Terra, os Sioux desapareceriam com eles. Aliás, os Sioux eram chamados de Siuks pelos povos nativos da América do Norte, que significa Homens Búfalos, e virou Sioux na versão dos colonizadores franceses, que foram os primeiros homens brancos a entrar em contato com este povo.

E segundo a tradição dos índios Lakota, foi um filhote de Búfalo Branco que trouxe o Cachimbo Sagrado para o seu povo e o ensinou a rezar. Quando o Búfalo Branco aparece, é sinal de que as preces foram respondidas, de que o Cachimbo Sagrado foi louvado e todas as promessas e profecias foram cumpridas. É por isso que o Búfalo Branco prenuncia um tempo de plenitude e abundância para todos.

O Búfalo era a maior fonte de subsistência para os Sioux, nas planícies norte-americanas. Ele fornecia carne para alimentação, pele para as tipis e roupas e agasalhos para longos invernos, ossos para a confecção de diversos instrumentos, além dos cascos, a partir dos quais se produzia uma substância adesiva usada como cola. A cura do Búfalo é realizada por prece, louvor e gratidão pelos inúmeros dons que nos foram concedidos. A energia do Búfalo também nos ensina que a abundância sempre estará presente desde que todas as relações sejam honradas como sagradas e desde que saibamos expressar nossa verdadeira gratidão pela existência de cada ser vivo da criação.

O Búfalo estava sempre predisposto a compartilhar todas as dádivas contidas em seu corpo aqui na Terra, antes de partir para os Campos Sagrados do Espírito. Não foi por acaso que o maior Chefe Sioux de todos os tempos, Tatanka Lyotake, tenha recebido o seu poder do Búfalo e fosse ele mesmo um verdadeiro Búfalo, um homem grande de constituição forte, um Pai de coração totalmente generoso, que doou toda a sua força, toda a sua coragem, toda a sua sabedoria e toda a sua vida aqui na Terra pelo seu povo.

E também não é por acaso que o Búfalo representa o Escudo do Norte, a Direção onde fica o Lugar Sagrado dos Anciãos. Lá, onde hoje o Espírito do Grande Búfalo - Tatanka Lyotake - continua a guiar os seus filhos, muitos deles encarnados em pele de branco, como nós, e espalhados por lugares muito além das antigas planícies - Os Guerreiros do Arco-Íris - responsáveis por manter vivo o Espírito Vermelho e guiar a Mãe Terra em sua transição para a Liberdade.

"Quando o Tempo do Búfalo estiver para chegar, a terceira geração das crianças de Olhos Brancos deixará crescer os cabelos, e começará a falar do Amor que trará a Cura para todos os filhos da Terra. Estas crianças buscarão novas maneiras de compreender a si próprias e aos outros. Usarão penas, colares de contas, e pintarão os rostos. Buscarão os Anciãos da nossa Raça Vermelha para beber da Fonte de sua Sabedoria. Estas crianças de olhos brancos servirão como um sinal de que os nossos Ancestrais estão retornando em corpos brancos por fora, mas Vermelhos por dentro. Elas aprenderão a caminhar novamente em equilíbrio na superfície da Mãe Terra, e saberão levar novas idéias aos Chefes Brancos. Estas crianças também terão de passar por provas, como acontecia quando eram Ancestrais Vermelhos. Serão usadas substâncias pouco comuns, como, por exemplo, a Água de Fogo, para observar se elas continuarão a caminhar firmemente dentro do Caminho Sagrado.

Este movimento provocará um novo tipo de emoções e de sentimentos entre os filhos da Terra, o que apressará as mudanças. Muitos sonhos coloridos serão trazidos para oTempo de Dormir e para o Tempo de Sonho destes Guerreiros do Arco-Íris, e eles aprenderão de novo a Caminhar em equilíbrio. As mudanças que ocorrerão em nossa Mãe Terra trarão medo às suas crianças, porém mais tarde conduzirão à Consciência da Unidade, no seio de Um Só Mundo, Um Só Povo."

O Búfalo também foi tudo para os brancos, na sua conquista do "Oeste Selvagem", em troca, eles se empenharam em matar até o último deles.

Mais de um milhão de americanos lutou passo a passo, e no meio das maiores dificuldades, através das pradarias centrais do continente norte-americano, antes das estradas de ferro terem começado a atravessar o vasto território. Durante meio século, o maior anfitrião da América serviu este milhão de pessoas, e as serviu regiamente, fornecendo-lhes saborosa e suculenta carne fresca, cobrindo-os com o rico agasalho das suas peles, proporcionando-lhes combustível onde muitas vezes não se podia encontrar nem um graveto para acender uma fogueira. Mostrou-lhes o caminho para as nascentes de água ou os vaus por onde as carroças de toldo podiam atravessar as correntes. Não é, pois, de estranhar que este herói dos tempos da fronteira ande imortalizado nas moedas de cinco centavos dos Estados Unidos: o nickel.

Chamavam-lhe Old Man Buffalo. O Búfalo Americano era, e é, o maior animal do Novo Continente. Ao atingir o máximo crescimento, a sua altura média é de 1,80m na espádua, e mede de 3 a 3,75m de comprimento, da cabeça à cauda. Pesa a bagatela de 900 quilos, e alguns exemplares têm chegado a pesar 1.200Kg. Os cornos não são muito grandes, mas a largura da coroa hirsuta que os separa, é soberba. Com esses cornos o macho escavava a terra dura da planície para nela se aninhar; podia destroçar toda uma alcatéia de lobos, estripar um cavalo, e até arrebatar cavalo e cavaleiro com seus chifres enfiados neles durante uns cem metros, antes de atirá-los ao chão.

A fêmea, ao defender a sua cria, é mais perigosa do que um urso pardo, e pode tornar-se um dos mais animais mais agressivos do mundo. E ninguém poderia sobreviver sessenta segundos, se fosse colhido no meio de uma manada de Búfalos em estouro. Um historiador francês conta que assistiu a uma manada de Búfalos passar à sua frente que durou um dia inteiro. Antes da chegada dos brancos à America do Norte, o Búfalo era o mais numeroso de todos os grandes mamíferos terrestres. Vários têm sido os cálculos feitos pelos naturalistas, mas nenhum crê que houvesse menos de milhões de Búfalos na América do Norte. Os cowboys americanos não tinham palavras para descrever as manadas destes reis da planície.

O coronel Dodge, um dos maiores conhecedores da pradaria, descreve-nos uma manada com largura de uns quarenta quilômetros que se estendia de norte a sul, até onde os olhos podiam alcançar. Na época da navegação fluvial, o trânsito no rio Missuri chegava a ser às vezes interrompido durante dias por uma manada de Búfalos, que atravessavam as águas a nado. Nunca o Criador concedeu a país algum a graça de tal abundância de carne, mas devido a um desperdício voraz, nem a terça parte dos animais abatidos pelo homem branco era aproveitado. Havia apreciadores da carne das pradarias capazes de matar um Búfalo só para saborear-lhe a deliciosa língua, abandonando aos lobos o resto do animal. Muitas vezes matavam-se Búfalos para usar sua pele, e os primeiros colonizadores o faziam para engordar com eles os porcos. Milhões foram sacrificados só para livrarem deles as terras. Por volta de 1810 já os tinham forçado a migrar para além do Mississipi, e nas florestas do leste os seus únicos vestígios eram as trilhas que eles tinham aberto ao marchar em longas filas. A Estrada do Oeste de Don Boone seguia em parte uma trilha de Búfalo desde o Tennessee, através da garganta de Cumberland, até as terras salinas do Kentucky. Muitas cidades devem a sua localização a terem os Búfalos um dia aberto uma estrada ali.

O lançamento das estradas de ferro transcontinentais trouxe consigo a condenação das manadas de Búfalos. Mas o velho senhor das terras não se limitou a contemplar pacificamente a invasão: tentou opor-se-lhe derrubando os postes telegráficos, plantando-se no meio dos trilhos e entrando entre os vagões, despedaçava-lhes os engates. A Estrada de Ferro Kansas-Pacífico pagava ao coronel Willian Cody o suntuoso salário de 500 dólares por mês, para conservar a linha livre daqueles resfolegantes brutos. Com seu bando destruidor, não só dizimou as manadas, mas forneceu diariamente ao pessoal construtor toda a carne fresca que aguentassem comer, muito mais do que necessitavam. Uma vez, por uma aposta o coronel Cody matou num só dia sessenta e nove Búfalos. Em dezoito meses massacrou 4280 animais, e foi por isso que passou a ser conhecido pela alcunha de Buffalo Bill. Em face a semelhante ofensiva estava escrito o trágico destino do Búfalo: Os enormes animais tinham que desaparecer à medida que os brancos iam avançando.

Os colonizadores não podiam manter suas fazendas, suas cercas, seus rebanhos e colheitas, na presença destes "montros ferozes". Buffalo Jones (outro matador de Búfalos), de Santa Fe, declarou que em 1865 existiam apenas uns 15 milhões de Búfalos, dos quais foram exterminados, só nesse ano, mais de um milhão. Metade dos que sobejaram foram destruídos em 1872, o ano de maior matança. Em 1883 foi abatida em poucos dias a maior manada do estado de Montana, uns dez mil animais: atiradores exímios vigiavam todas as nascentes de água durante as horas abrazadoras do verão, e à noite, à luz das fogueiras, quando os pobres brutos, exasperados de sede, afrontavam as balas, para beber água, nem um só escapava.

Esta matança foi devida em grande parte, ao valor das peles, crescente à medida que elas escasseavam. Depois depositavam-nas à beira da estrada de ferro, em pilhas altas como as medas de feno do Kansas, numa extensão de muitos quilômetros. Para o fim, o rei da América primitiva era apenas um alvo fácil para os atiradores esportivos. Passando a ser moda para os ricos caçadores de caça grossa e para seus hóspedes ilustres matar o último Búfalo. O general Sheridan arranjou uma caçada para o Grão Duque Aleixo da Rússia, com o coronel Custer, o coronel Cody, um grupo de batedores índios (que haviam se bandiado para o lado dos brancos) e um esquadrão de cavalaria dos Estados Unidos, que fizeram uma batida aos últimos sobreviventes. Depois, comeram churrasco de Búfalo regado com Champagnhe.

Nas terras onde no passado as manadas eram soberanas, encontram-se hoje apenas os seus esqueletos alvejantes, espalhados por uma extensão de muitos quilômetros. Fotografias da época mostram-nos a planície branca de ossadas, a perder de vista. E, mesmo depois de reduzido a esqueleto, o Velho Búfalo continuou a ajudar o colonizador. Os ossos tinham um preço elevado no mercado, tanto para serem usados nas refinarias de açúcar, como para a fabricação de adubos químicos; e houve muita gente, dentre os antigos pioneiros, que pagou a primeira prestação da sua propriedade com o produto da venda de ossos de Búfalo que juntaram ao limpar o terreno adquirido. Um comerciante fez uma fortuna, expedindo para a cidade de Kansas um carregamento de três mil carroças. Por onde quer que houvesse passado o Velho Búfalo, sempre deixou luz e calor. Muitos anos depois de terem desparecido as suas manadas, quem viajasse através da planície desarborizada, conseguia combustível do estéreo Búfalo, em tais fogueiras se cozinhavam refeições reconfortantes, e muitas histórias foram contadas em torno delas.

Mesmo depois de terem desaparecido tais vestígios, os colonizadores das pradarias puderam achar o caminho para as nascentes, porque as trilhas que para lá conduziam, estrumadas por estes grandes animais durante gerações, estavam nitidamente marcadas por uma vegetação maior e mais viçosa. A terra veio a ser afinal cultivada e vedada, as estradas de ferro cruzando a planície em várias direções. Isolados, perseguidos, os últimos Búfalos corriam o risco de extinção completa. O Presidente Grand opôs-se a um projeto de lei para salvá-los, e o Congresso obstruiu sucessivamente a promulgação de várias medidas destinadas à sua conservação. Alguns homens brancos, porém, compreenderam que muita da força e orgulho do país, muito do esplendor americano se perderia quando desaparecesse o último dos Búfalos. Um nativo americano chamado Coiote Errante, um amigo provado do Búfalo, prestes a desaparecer, pegou a laço quatro crias, dois machos e duas fêmeas, e destes pares é que tiveram origem os dois grandes rebanhos Allard - Pancho e Courad, de estado de Montana, dos quais descendem muitos dos Búfalos de puro sangue que existem atualmente.

Em Panhandle, o coronel Charles Goodnight, a pedido da esposa, também salvou algumas crias bravas, que atraiu para a sua fazenda para as proteger, no que foi imitado por vários outros fazendeiros entusiastas do Oeste Selvagem. A Sociedade do Búfalo Americano, fundada em 1905 por Theodore Roosevelt e alguns amigos, conseguiu juntar 50 mil dólares para criar a Reserva Nacional do Búfalo, no estado de Montana. Atualmente existem também manadas perfeitas nos estados de Nebraska, Oklahoma, Dakota do Sul e no Parque Yellowstone, e introduziu-se também um rebanho no Alasca.

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Em 1870, durante uma nevasca, em pleno dia, 100.000 Búfalos, caminharam em fila até desapareceram de um penhasco de 1000 metros de altura sob os olhares incrédulos de uns poucos caçadores. Seus corpos cobriram o fundo do desfiladeiro formando uma mórbida pilha de 300 metros de altura. O que mais impressionava é que este fato ocorreu no momento em que todos os Búfalos do território americano estavam sendo exterminados como parte de uma política de estado que objetivava empurrar as tribos indígenas cada vez mais para o oeste matando os Búfalos, que durante milênios foram sua principal fonte de alimento. Em função dessa nefasta política de estado, os índios americanos foram dominados e confinados em reservas, o oeste foi finalmente conquistado e ocupado. E os Búfalos, que na chegada do homem branco ao continente americano eram cerca de 60 milhões de animais, em 1912 estavam reduzidos a 800 animais em todo o território americano.

Búfalo Sagrado,
Branco como a neve,
Proteja meu coração
Até o fim dos meus dias
Na Boa Estrada Vermelha


Fonte: Canção da Meia-Noite - Jamie Sams e Natural History- Doanld Culross Peattie